Jornal de Letras, Artes e Ideias

(claudioch) #1

6 · educação


jornaldeletras.pt • 19 de junho a 2 de julho de 2019 / JL






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INQUIETAÇÕES


PEDAGÓGICAS


Desafios da avaliação no contexto


da Autonomia e Flexibilidade Curricular


A mudança da avaliação dos alunos é um dos maiores desafios à
construção de uma escola democrática onde todos aprendam e
simultaneamente desenvolvam competências que o futuro exige aos
cidadãos e aos profis$ionais.
As reformas e as inovações em curso na escola portuguesa (referidas
nos dois textos hoje publicados) têm encontrado obstáculos de peso,
colocados quer pela avaliação praticada ao longo do ano letivo, quer
pelos exames. Quántas vezes a pesquisa, o trabalho de projeto, a
aprendizagem da intervenção, do debate, do sentido crítico são


A Avaliação Interna


TERESA LOPES


  • A luz das correntes atuais das
    ciências da educação e, ainda, no
    consignado no Perfil dos Alunos
    do Séc. XXI e na Estratégia
    Nacional de Educação para
    Cidadania, a ação educativa
    assenta, numa interação
    dinâmica entre o educador e o
    educando, entre o professor e
    o aluno, entendidos enquanto
    atores de um processo de co-
    construção do conhecimento.
    A ambos compete refletir para
    agir autonomamente. Educador
    e educando são, assim, sujeitos
    reflexivos num processo
    contínuo de formação holística,
    implicando a existência de um
    professor reflexivo e de um
    aluno - ator -(re)construtor
    do seu próprio conhecimento;
    convocando um modelo
    de aprendizagem baseado
    nos princípios da didática
    construtivista: estímulo de uma
    forma de pensar e de agir em
    que o educando, ao contrário
    de assimilar passivamente
    os conteúdos, reconstrói o
    conhecimento a que teve acesso,
    desenvolve capacidades e
    atitudes, dando-lhe um novo
    significado e, como tal, produz
    a sua própria narrativa de
    conhecimento.
    No processo de aprendizagem,
    professor e aluno têm papéis
    diferentes: ao aluno cabe a
    responsabilidade de aprender; ao
    professor, a de criar as melhores
    condições para que o aluno
    aprenda. Ao aluno compete
    consciencializar- se de que a
    aprendizagem só se efetua se ele


desenvolver uma atitude positiva
face ao trabalho e ao estudo e esteja
motivado para aprender mais de
modo pesso;tl e autónomo. Ao
professor compete refletir sobre
as suas práticas, reajustando
metodologias, estratégias e
modalidades de avaliação
direcionadàs às necessidades dos
alunos dó grupo/turma, utilizando
as abordagens mais eficazes para
o processo de aprendizagem e
avaliação de cada grupo de alunos,
respeitando ritmos e centros de
interesses dos alunos, utilizando o
tempo e os recursos eficazmente,.
tendo subjacente um diálogo
construtivo e dinâmico, integrador
dos conhecimentos prévios e dos
processos cognitivos e emocionais
dos sujeitos envolvidos, um diálogo
assente numa atitude heurística no
processo de aprendizagem.

:'\ESTA PERSPETl\"A A :\\'A-
IA AO 1.:'\TER.:'\.\ constitui um
processo regulador das aprendi-
zagens, orientador do percurso
escolar e certificador dos conheci-
mentos adquiridos e capacidades,
competências, atitudes e valores
desenvolvidas pelos alunos, valo-
rizando e elegendo como principal
modalidade de avaliação a avalia-
ção formativa.
Esta dimensãq reguladora
da avaliação interna tem por
objetivo a melhoria da qualidade
das aprendizagens e o sucesso de
uma forma holística dos alunos,
melhorando a qualidade do processo
educativo, redefinindo situações
de aprendizagem/avaliação para
que todos os alunos aprendam,
reforçando a cultura de autonomia
e flexibilidade curricular e da
educação inclusiva.

"adiados" em nome da preparação dos testes que por sua vez preparam
para o exame?
Conseguiremos adequar a avaliação (interna e exter~) ao futuro e a uma
Educação para Todos?. Como fazer com que a avaliação tenha em conta,
a aprendizagem, o percurso dos alunos, o trabalho realizado no dia-a-
dia e contribua p ara a sua autoestima? Como poderão os exames avaliar ·
as aprendizagens realizadas e as competências imprescindíveis?
É urna tarefa difícil, em construção, e é sobre esses desafios que nos
falam os textos que hoje publicamos.

''


Fazer com que todos
os alunos aprendam
sem deixar nenhum
para trás

De acordo com a legislação em
vigor, é competência atribuída ao
Conselho Pedagógico, elaborar os
critérios de avaliação dos alunos,
definindo os domínios de avaliação,
os descritores de desempenho, os
descritores de aprendizagem, os
procedimentos e/ou técnicas de
recolha da informação a privilegiar
para os diferentes níveis de educação/
ensino, tendo subjacente a articulação
com as áreas de competência do Perfil
dos Alunos do Séc. XXI.

Assim, os critérios de avaliação
dos alunos devem constituir
um referencial comum para
toda a comunidade escolar, (re)
orientando as práticas e avaliando
os procedimentos e/ou técnicas de
recolha de informação relativas
ao percurso de aprendizagem
desenvolvido pelos alunos.
A avaliação interna dos alunos,
no contexto da Autonomia e
Flexibilidade Curricular, deve
ter como objeto o processo de
aquisição e de desenvolvimento
de competências integradoras dos
domínios do ser, do saber, do saber-
fazer e do saber- estar entendidos
como um todo indissociáveL

CIE~TES DO PAPEL CE:'\TRAL
DA AFTOA\"ALIACAO e daco- a-
valiação da avaliação formativa a
realizar em vários momentos de

modo a identificar as mudanças
operadas pelos alunos no seu pro-
cesso de aprendizagem, releva-se
o envolvimento e a negociação dos
mesmos na construção de indi-
cadores e nos procedimentos e/
ou técnicas de recolha da infor-
mação na vertente da Auto e da
Heteroavaliação. De sublinhar,
ainda, a relevância para o processo
de avaliação interna dos alunos os
princípios que a seguir se indicam:
Clareza -Os objetivos e as
estratégias de avaliação, bem
como o significado dos símbolos
e dos termos a utilizar têm de ser
claros, de modo a que os alunos
e os encarregados de educação
compreendam a linguagem
avaliativa.
Compatibilidade -As
modalidades e os procedimentos
e/ou técnicas de recolha da
informação têm de ser compatíveis
quer com as didácticas de
aprendizagem e com as
competências a desenvolver, quer
com as metodologias pedagógico-
didácticas utilizadas.
Diversidade na recolha
de informação - a avaliação
respeitante à aprendizagem
tem de ter por base informações
convergentes recolhidas através
de formas variadas de avaliação,
que representem a mobilização
de conhecimentos em diferentes
contextos e situações de avaliação,
uma vez que o desenvolvimento
de cada competência tem de ser
observado utilizando diversos
instrumentos de avaliação,
nunca sobrevalorizando nenhum
deles. Nos recursos pedagógicos
utilizados - estas metodologias
terão de integrar as modalidades de
avaliação, com ênfase na avaliação
formativa, operacionalizadas em
momentos formais e informais
de avaliação, abrangendo, quer
conhecimentos e capacidades
específicas, quer as áreas de
competências previstas no Perfil
dos Alunos do Séc. XXI.
Adequação de Métodos e
Práticas de Avaliação -As formas
de recolha de informação e dos
instrumentos de avaliação a utilizar
têm de ser consentâneos com o
tipo de atividade proporcionada
para a verificação da aquisição
de conhecimentos e para a
demonstração de determinada
competência.
Por fim, na avaliação interna
têm de ser considerados os
processos e os produtos, ou seja,
a avaliação do desenvolvimento
de competências implica, após
negociação e contratualização
atempadas, a observação, em
diferentes momentos e em diversos
contextos, do desempenho do aluno
na mobilização, de forma integrada,
de conhecimentos, capacidades,
procedimentos e atitudes, a fim de
atingir o desiderato de "Fazer com
que todos os alunos aprendam sem
deixar nenhum para trás".. n

'Teresa Lopes é diretora
do Agrupamento de Escolas Ibn Mucana,
em Alcabideche
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