Jornal de Letras, Artes e Ideias

(claudioch) #1

JL / 19dejunhoa2dejulhode2019 • jornaldeletras.pt


Poesia no Lisbon Revisited


da Casa Fernando Pessoa


ti A angolana Ana Paula Tavares, o
norte- americano Bill Collins, a mexi-
cana Mónica de la Torre, a franco-a-
mericana Nathalie Handal, o croata
Tomica Bajsié e os portugueses Daniel
Jonas, Nuno Júdice e Rosa Oliveira
são os oito poetas convidados da 23
edição do Lisbon Revisited -Dias de
Poesia, encontro internacional de
poesia que a Casa Ferhando Pessoa
(CFP) promove nos próximos dias
27, 28 e 29, no Teatro Maria Matos,
no âmbito das Festas de üsboa. "Que
voltemos aos mesmos poetas, que
convidemos outros menos conhe-
cidos, que apostemos em traduções
de qualidade, que chamemos a
üsboa os poetas consagrados, que
poetas portugueses e estrangeiros se
conheçam e conversem sobre o que
fazem. É o que procuramos", propõe,
na apresentação da iniciativa, Clara
Riso, diretora da CFP, que acrescenta:
"Conversar sobre poesia, ouvir os
poetas ler os seus poemas, falar sobre
as suas próprias leituras, como se
veem na escrita. Em várias linguas,
sempre com tradução; com livros à
venda e os autores perto de nós. O
palco da poesia pode ser qualquer
rua -habitável, percorrivel, aqui ao
lado."

suscitar o debate, incluindo os das
conversas. A 28, Rosa Oliveira e
Daniel Jonas falam com Joana Matos
Frias, às 17, e Mónica de La Torre
com Maria Sequeira Mendes, às 18

Lisbon Revisited -Dias de Poesia
organiza-se em torno de leituras e
conversas. Na abertura, a 27, entre
as 18 e 30 e as 20 e 30, cada poeta
será apresentado por um estudioso
ou "leitor especializado", seguindo-

-se um diálogo Uvre. A relação com
a linguagem, ~momento e o lugar
da chegada à escrita e a experiência
de publicação 'são alguns dos temas

e 30. A 29, Billy Collins encontra-
-se com Ricardo Marques, às 15 e
30, Ana Paula Tavares e Nathalie
Handas com Marta Lança, às 16 e
30, e Tomica Bajsié e Nuno Júdice
com Maria João Cantinho, às 18.
Leituras de poemas pelos próprios
poetas encerram, a partir das 21, os
dias 28 (Oliveira, Jonas e Torre) e 29
(Collins, Handal, Tavares, Bajsié e
Júdice). Todas as sessões têm tradu-
ção simultânea.

Ruben de Carvalho


(1944-2019)


ti Um anti-fascista e sempre combatente pela liberdade e
democracia, um homem livre, tolerante, afável, bem humo-
rado e culto, com um profundo conhecimento sobretudo no
dominio da música, em particular do fado e dos blues, musi-
cólogo e jornalista, o histórico dirigente comunista, criador
da Festa do Avante!, Ruben de Carvalho morreu, no passado
dia 11 , aos 74 anos. Nascido em Lisboa, a 21 de julho de 1944,
Rubén Luis Tristão de Carvalho e Silva envolveu-se nas lutas
estudantis, contra o regime salazarista, quando era ainda
aluno do Liceu Canlões. Fez parte das comissões juvenis de
apoio à candidatura do general Humberto Delgado em 1958
e, na década de 6o, da COE, antes de ingressar no Partido
Comunist~, em 1970. Foi preso pela Pide seis vezes, a pri-
meira das quais aos 18 anos, a última a 7 de abril de 1974.
Funcionário do PCP, seria um dos organizadores da Festa
do Avante! desde a primeira edição, na FIL, em 1976, sendo
o responsável pela programação musical, sempre ao abrigo
de um grande ecletismo, com grandes nomes portugueses
e estrangeiros, do jazz à pop, passando pelos blues, fado,
música popular ou clássica. Foi deputado e vereador da
Câmara de Lisboa. Era membro do Comité Central do PCP.
Como jornalista, foi chefe de redação de A Vida Mundial e do
Avante!, redator e coordenador de O Século, e assinou cróni-
cas em vários meios de comunicação, nomeadamente no
Diário de Noticias. Na RDP1, tinha dois programas: um seu,
de música, com Iolanda Ferreira, Crónicas da Idade Mídia, e
outro de debate, com Jaime Nogueira Pinto, Radicais Livres.

Publicou obras como o Dossier Carlucci -CIA e .Palavros das
Cantigas, uma antologia de José Carlos Ary dos Santos.

José Afonso, obra


'de irtteresse nacional'


ti A classificação da obra de José Afonso como de interes-
se nacional, com vista à sua proteção nos termos da lei
107/2om, com uma "espeçial tutela do Estado", é requerida
numa petição já na net, e com mais de oito mil assinaturas, a
que se seguirá outra, de teor semelhante, dirigida à ministra
da Cultura e subscrita por artistas, escritores e outros admi-
radores do compositor e cantor. A iniciativa, da Associação
José Afonso, é justificada por se encontrarem indisponíveis
para aquisição 11 dos seus álbuns, "face à suposta dissipação
de todo o património da Movieplay, perante a insolvência",
e disponiveia apenas três. Nos pressupostos da petição
subliRha-se ser "a obra de JA referência maior da cultura
musical portuguesa", "património inestimável" que "inte-
gra a mais vivida memória do nosso passado em ditadura,
do nosso renascimento em Abril e da democracia". Segundo
a citada lei, "integrani o património cultural todos os bens
testemunhos com valor de civilização ou de cultura, por-
tadores de interesse relevante". O que é o caso da obra do
autor de _"Venhanl mais cinco", por isso se impondo, como
salientou ao JL o presidente daquela Associação, Francisco
Fanhais, a "sua especial proteção e valorizaÇão", mormente
em termos de não ficar inacessível ao público.

DESTAQUE· 3


COMENTÁRIO


JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS

Chico Buarque


C


hico Buarque foi "meia capa" do JL logo no nosso n^2 20,
de 24/1111981. Antes dele, a não portugueses, tinhamós
dedic~do capas apenas a Glauber Rocha (sua última
foto) com Jorge Amado (n^2 14, de 1/9/81), Picasso (n^2.
18, de 27l1o/81) e Drummond (n^2 19, de 16/1111981).
Julgo que isto diz tudo sobre o que aqui na casa pensa-
mos, desde sempre, sobre o escritor e artista agora distinguido com o
Prémio Camões, o mais importante de lingua portuguesa. Se recor-
darmos o muito que aqui se foi escrevendo sobre ele, a dizer-se que o
prémio é justo e mais do que justo pode-se acrescentar que até já antes
lhe deveria ter sido atribuido.

NÃO OCULTO QUE PARA A ATENÇÃO E O DESTAQUE INICIAIS
contribuiu o facto de ter conhecido, e de imediato admirado, Chico
Buarque ( CB) logo na sua primeira grande criação: a música de Morte e
Vida Severina, o poema dramático de João Cabral de Melo Neto levado à
cena por um grupo de teatro universitário de S. Paulo, o TUCA, que em
1966 o representou no prestigiado Festival de Nancy - e o venceu. Eu
estivera, no ano anterior, com o TEUC, nesse festival (Cristo num auto
de Gil Vicente ... ), sabia a sua importância. E quando o TUCA veio, após
Nancy, a üsboa, já redator do Diário de Lisboa escrevi, entusiasmado,
·sobre a peça e o espetáculo no Teatro Avenida, conheci o CB, fiz uma
longa entrevista ao João Cabral. O Chico diria mais tarde que esse seu
trabalhao "garantiu -lhe que melodia e letra devem e podem formar um
só corpo".
Mas voltemos à "meia capa". Meia porque partilhada com Ruy Belo.
E, curiosamente, no seu texto na p. X, o António Carlos Cortez revela
que na sua primeira aula como professor em Madrid o poeta de Homem
de Palavra(s) 'partiu' do poema do Chico, não só letra, "Construção".
Naquela edição, a vigésima, sobre CB escreveram o nosso colaborador
permanente João de Freitas Branco (JFB), o mais relevante musicólogo
português de então, em simultâneo critico e divulgador excecional,
Alexandre O'Neill (sim, o O'Neill) e António Duarte. O texto do JFB,
de duas páginas inteiras, é uma análise exemplar, a partir da Ópem
do Malandro -livro que eu teria o gosto de editar em PortugalL com a
chancela de O Jornal, e prefácio de JFB, tendo por base esse texto. (Entre
parênteses assinalo que também nesta edição sobre o CB escreve, na p. X,
o Rui Vieira Nery, que como ninguém se situa na linha e à altura de JFB).

AO LONGO DOS ANOS, COMO SE DISSE, CB FOI, nas suas diversas
facetas de criador, mormente como escritor, presença constante no JL.
Não tendo cabido no Tema que agora lhe dedicamos - como anuncia-
do na edição anterior, de que teve de ser 'retirado' devido à morte de
Agustina -, fica aqui apenas a referência a alguns dos outros n^2 s em
que lhe demos maior destaque, incluindo capas. Assim: 489, de 19/11/
1991; 693, de 7/511997; 897, de 16/2/2005; 1009, de 3/6/2oo9; 1158,
de 18/2/2015. Nenhum dos seus livros passou sem o devido relevo
e, por exemplo, sobre Budapeste escreveu Carlos Reis, no n^2 912, de
14/9/2oo5: "Mesmo que olhássemos apenas para a obra do compositor
revelado nos anos 6o ( ... ), perceberiamos a qualidade do escritor que
com ele convivia já: a música e a poesia de Construção, as peças de tea-
tro Gota d'Água (com Paulo Pontes) e Ópem do Malandro, os romances
Estorvo, Benjamin e este Budapeste dão testemunho expressivo de um
trajecto literário consistente, que parece ser agora prioridade de Chico
Buarque."
Uma última nota. Já pelo menos uma vez aqui sublinhei a necessi-
dade de dar maior impacto ao Prémio Camões, muito inferior, p.e., ·ao
do Prémio Cérvantes em Espanha e nos paises de lingua castelhana.
Para isso têm de se encontràr novas forntas de o promover e valorizar,
nomeadamente aquando da sua entrega. Ora, quando esta será feita,
em Portugal, a uma figura com a·dimensão e enorme popularidade de
Chico Buarque, estaremos perante uma ótima oportunidade para o efei-
to. Ponto é o acordo e colaboração do premiado nesse sentido, que pode
não ser fácil. Mas a ministra da Cultura, que tem mostrado atenção e
dinamismo, deve tentá-lo ... JL
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