Jornal de Letras, Artes e Ideias

(claudioch) #1

30 • DEBATE-PAPO


,


Alvaro Siza as Festas


do Senhor de Matosinhos


ti A romaria do Senhor de Matosinhos é das mais antigas e
concorridas de Portugal - ou, como hoje mais correntemente
designadas, as Festas de Matosinhos são das mais conheci-
das do país. Porque desde logo o Senhor - o Bom Jesus -de
Matosinhos é famoso, e a sua devoção e o seu culto não se res-
tringem a Portugal, são grandes também sobretudo no Brasil,
onde há mais de 30 santuários a ele dedicados. Daí a natural
pertinência de se ter realizado a semana passada, naquela
cidade 'contígua' ao Porto, integrado no progama das Festas,
o I Congresso Internacional sobre o Senhor de Matosinhos. No
qual participou nomeadamente uma delegação de Congonhas,
a cidade brasileira cujo Santuário do Bom Jesus de Matosinhos,
com as famosas esculturas do Aleijadinho, foi classificado pela
Unesco Património Cultural da
Humanidade. Congresso que
encerrou com uma conferên-
cia do reputado especialista
brasileiro Ângelo Osvaldo, 12
anos prefeito de Ouro Preto e
depois, além do mais, presi-
dente do Instituto Brasileiro de
Museus, secretário de Cultura
do Estado de Minas Gerais e
ministro interino da Cultura.
A organização foi da Câmara
Municipal, presidida por
Luísa Salgueiro, e que tem
como vereador da Cultura,
há 20 anos, o ex jornalista
Fernando Rocha, 'motor'
fundamental desta e de muitas
outras iniciativas que fazem de
Matosinhos um dos concelhos
portugueses com mais e
melhor atividade cultural - a
última grande iniciativa tendo
sido a criação da Casa da
Arquitetura, Centro Português
de Arquitetura/ Centro de
Documentação Álvaro Siza,
aberta ao público desde 2017.
Ora, integrado no Congresso
houve o lançamento da 3i
edição, revista e aumentada,
da obra Senhor de Matosinhos


  • Lenda, História, Património,
    da autoria do historiador Júlio
    Cleto: um magnifico estudo
    num bonito volume, capa
    dura e papel couché, muito
    bem apresentado (grafismo
    de Nuno Leal) e ilustrado
    com reproduções mormente
    do templo de Matosinhos
    e da imagem esculpida do
    Senhor que a lenda atribui
    a Nicodemos, fotos atuais e
    antigas da romaria, etc. Além
    disso, e das notas introdutórias
    da presidente da edilidade, de
    Fernando Rocha e do autor,
    esta edição tem capa com
    um desenho de Álvaro Siza,
    e um curioso texto seu em
    que recorda ter pertencido à
    Comissão das Festas em 1956
    e 1957 e o que nessa qualidade
    lhe aconteceu ... Saliente- se
    que Siza, matosinhense, fez
    aí as suas primeiras casas e
    também, ainda nem podia


Senhor de Matosinhos -Lendo,
História, Potrim6nio, de
Júlio Cleto com capa e um
testemunho de Álvaro Slza

"assinar" os projetos-trabalhava com Fernando Távora-as
suas primeiras obras emblemáticas: a Casa de Chá da Boa Nova
e as Piscinas das Marés. Leia-se, então, o texto evocativo do
ex-festeiro ...
"Converso com António Menéres sobre o que ainda
recordamos da passagem pela Comissão de Festas do Senhor
de Matosinhos, nos anos de 1956 e 57, julgo que por influência
de Fernando de Oliveira, então vereador da cultura da Câmara.
Movia-nos uma ideia de inovação da patente nalguns eventos
por nós propostos. O António Menéres, que fazia parte da equipe
redatora do inquérito à arquitetura vernacular, na zona norte
dirigida por Fernando Távora, havia visto e fotografado os arcos,
por vezes de grande altura, instalados nas Festas dos Santos
Padroeiros de cada freguesia.
Propôs então que no Senhor de
Matosinhos fossem colocados, em
diversos pontos, os arcos das dez
freguesias do concelho, e ainda
que fosse construído um estrado
em madeira, para apresentação
de grupos folclóricos.
Tudo isso foi bem recebido
pela Comissão e pelo público.
Mas quando falamos em
modificar a iluminação da
igreja matriz, a reação foi um
pouco diferente. Todos os
anos o granito da fachada era
perfurado, para suspensão de
uma estrutura em madeira, a
acompanhar o desenho barroco
de Nazoni. A iluminação
assente nessa estrutura era
feira através de uma instalação
contínua de pequenas lâmpadas
de mil cores. Desejávamos
conseguir uma iluminação
geral e uniforme, por meio de
uma distribuição de projetares
estudada por técnicos
experientes.
A polémica instalou-
se dentro da Comissão;
conseguimos levar por diante
a ideia mas com pouca adesão
e ásperas críticas. Não resulta
colher a fruta antes do tempo.
Aprendemos (talvez) a não ser
precipitados. Desistimos então
de outra proposta: modificar a pele de flores coloridas sobre a
talha dourada da igreja - e na mesa aos pés do Senhor.
Pela mesma altura acabara de construir um projeto, pela
primeira vez: quatro casas na Avenida Afonso Henriques,
quase em frente à igreja. Teve logo direito a crítica indignada
no Comércio do Porto. O recinto da Festa estendia -se pela
avenida até ao adro da igreja, onde antes brilhavam as
lampadazinhas de cor (em substituição das velas tradicionais
e agora substituídas por projetares). Na noite maior havia,
como habitualmente e até hoje, um mar de gente. No meio
da multidão seguia, cantando e provocando, uma fila de
"mulheres da fábrica", como então se chamava à mão de
obra que permitiu a época de oiro das conserveiras: operárias
alojadas na Real Vmícola ou em barracas no fundo dos
quintais, por trás das casas sobre a rua.
Pararam em frente da primeira casa, que eu acabara de
desenhar para o Sr. Neto ·(a família sentada na longa varanda
que ele desejara). O grupo parou e iniciou dança e coro com
letra a propósito: as casas mais feias de Matosinhos. A família
recolheu e eu e os meus amigos, que andávamos por aí,
retiramos com embaraço e gozo, para lugar mais discreto.
Indiferente, o fogo de artifício continuou." ,JI,

jornaldeletras.pt • 19 de junho a 2 de julho de 2019 / JL


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