— Eu sinto muito, mas... — Marley diz e eu ergo os olhos e
vejo um sorriso se formando nos lábios dela. — Quer dizer...
Kim... Sério... Que idiota.
O quê? Marley disse mesmo isso? Eu faço uma careta, mas
de forma totalmente inconsciente, uma risada escapa de mim.
— Você não pode dizer isso. Ela está morta.
Eu tenho bastante certeza de que isso é uma regra social
fundamental. Não podemos falar mal de pessoas mortas. A
menos que sejam tipo um ditador ou um serial killer.
— Bom, ela terminou com você — ela diz, levantando-se e
limpando a sujeira e as folhas de grama que grudaram em sua
saia amarela. — Não foi muito esperta.
As palavras dela me pegam de surpresa, mas ela não tem
uma expressão de flerte. Eu acho que ela só está sendo uma boa
amiga.
É bom poder falar com alguém sobre o término. Alguém que
reconhece que eu levei um fora sem me fazer sentir culpado por
isso.
Eu me levanto e ela olha para mim, esticando a mão para
tocar de leve no meu braço, e o ponto onde os dedos dela
encostam parece uma corrente de água que vibra por todo meu
corpo. A expressão dela fica séria de novo.
— Eu sinto muito pela sua dor — ela diz. E não parece uma
frase vazia, uma frase genérica que todo mundo repete por
educação.
Parece genuína.
E é exatamente o que eu preciso ouvir. Ela não está me
pressionando para eu melhorar logo. Não está julgando o que eu
estou sentindo ou fazendo. Ela só me deixa sentir.
— Não dói mais tanto quanto antes — eu respondo, surpreso
ao perceber que é verdade.
Depois de um tempo nós damos uma volta no parque. Algumas
folhas nas árvores já estão mudando de cor para o laranja, o
vermelho e o amarelo. Algumas se soltam dos galhos e caem na
nossa frente, e nossos pés as esmagam fazendo barulho.