— Você devia tentar — Marley diz, empolgada. — Ser um
escritor. Ou um jornalista. Assim nós dois contaríamos histórias.
Eu sorrio, o entusiasmo dela é contagioso. Eu tento imaginar
isso. Meu nome impresso em algo maior do que o jornal do
Ambrose. Dando aos times a cobertura que eles merecem em
vez de um caça-clique vagabundo.
— Eles nunca se vão de verdade, você sabe — ela diz de
repente, parando no meio do caminho. Eu me viro e vejo que o
rosto dela ficou sério outra vez. — Nós os guardamos conosco,
assim como você e o futebol. Eles ainda são parte da nossa vida.
Ainda são parte da nossa vida. Isso é tudo que eu queria
saber desde o acidente. Encontrar um jeito de viver sem deixar
Kim para trás.
Meus dedos roçam inesperadamente na mão de Marley e eu
me afasto imediatamente. A sensação é ao mesmo tempo
estranha e familiar.
Enfio minhas mãos nos bolsos e nós andamos em silêncio por
um tempo, mas não daquela forma penosa em que você fica
desesperadamente tentando pensar em algo para preencher o
silêncio. Na verdade isso é gostoso. Confortável.
— Obrigado, Marley — eu digo enquanto viramos uma curva
no parque, os carvalhos altos se erguendo em direção ao céu.
— Pelo quê?
Eu dou de ombros, sem saber como expressar minha gratidão
em palavras. Por ser fácil de conversar com ela? Por
compreender?
— Não tem sido fácil pra mim conversar com ninguém
desde...
Ela assente, como quem já sabe. Claro que ela sabe.
— Você acha que vai voltar amanhã? — Marley pergunta.
— Na verdade, hum... — Minha voz se perde, meu cérebro
tentando se recompor e formar uma frase coerente. — Eu pensei
que talvez pudéssemos sair do parque por uma noite. Jantar na
minha casa na sexta? Como um agradecimento. — Eu dou a ela
um grande sorriso enquanto tento melhorar a oferta. — Eu
cozinho alguma coisa.
Marley me olha de lado.
car0l
(CAR0L)
#1