— Nós... nós tínhamos esses colares idiotas. Safiras, uma
cor-de-rosa e uma amarela. Laura sabia que pra isso dar certo,
nós precisávamos estar perfeitas. Nós estávamos no ponto de
ônibus quando ela se lembrou. — Ela toca o pescoço. — Eu
ainda estava usando minha safira amarela, ela estava usando a
rosa.
Ela começa a tremer, suas memórias a consomem.
— Ela tirou o dela e pediu o meu. Mas... enquanto ela estava
colocando, o colar... ele ficou preso no cabelo dela. Ela estava
tão acostumada a manter o cabelo preso e o meu, o meu estava
sempre solto. Mas o dela estava... merda. — Ela começa a
tremer mais ainda. — Eu... merda...
— Tudo bem, Marley... — Eu tento abraçá-la, mas ela está
com raiva. Frustrada.
— Não está tudo bem! — ela diz com ferocidade. — Aquela
porra de pingente amarelo... meu pingente amarelo... ficou preso
no cabelo dela. O cabelo dela que estava solto por minha causa.
Ela estava puxando e rindo e ele se rompeu. O pingente rolou
para o meio da rua.
Ela para de falar, as lembranças ganhando vida diante dos
seus olhos.
— Eu vi o carro antes dela. Ela... nem sequer viu. Mas eu vi.
Eu vi e congelei. Eu nem tentei avisá-la. Minha voz também
estava congelada.
Eu me inclino para trás, chocado. Puta merda. Ela fica tensa,
como se estivesse ouvindo os pneus cantando, o som
repugnante.
— Marley. Não foi sua...
— Então eu ouvi um grito — ela diz, me interrompendo. — Eu
pensei que tinha sido eu, mas era nossa mãe. Eu nem me lembro
de como ela chegou lá. Ela só estava lá, no chão, segurando
Laura. Gritando... — A voz dela fica alta e aguda, a dor dessas
palavras, dessa lembrança, ganham corpo. — “Vocês deviam
cuidar uma da outra! Como isso aconteceu? Marley, como isso
aconteceu?”
Ela fica em silêncio por um bom tempo, lutando para
recuperar o fôlego.
car0l
(CAR0L)
#1