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Estou sentado na varanda com uma cesta cheia de
doces. A máquina de gelo seco ao meu lado solta outra rajada de
fumaça, embaçando minha visão. Eu abano a mão para dissipá-
la e outra horda de crianças vem gritando até mim, enquanto
seus pais aguardam na calçada iluminada pelos postes de luz.
— Gostosuras ou travessuras! — Um pequeno fantasma grita.
— Hum, gostosuras? — eu digo enquanto duas Elsas
mergulham com avidez nos doces antes de sair correndo para
fora do meu campo de visão.
Eu apoio a cesta no colo e tiro meu capacete de futebol
americano para checar com a câmera do meu celular se a
maquiagem de zumbi que minha mãe me ajudou a fazer ainda
está no lugar. Minha cicatriz agora é uma ferida melequenta na
minha testa.
Eu quase pedi a minha mãe para tirar quando vi e,
sinceramente, eu ainda não consigo olhar para ela sem nojo.
Tudo que eu consigo ver é meu reflexo nos óculos da dra.
Benefield na noite do acidente quando minha cabeça estava de
fato aberta.
Mas estou tentando não fugir mais disso.
Fico tenso quando minha visão embaça e começo a ouvir um
sussurro, me dizendo para não deixar...
— Buuu! — Uma voz diz, me puxando para fora da visão
antes que ela consiga me tomar por completo.
Abaixo meu celular e vejo...