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Os dias passam voando. Entre as manhãs no jornal e o
tempo que passo com Marley, dezembro chega de surpresa.
Logo a rua principal está toda transformada em um paraíso de
inverno.
E a cada dia Marley sai um pouco mais da sua concha.
Ergo os olhos e vejo a neve caindo de leve, flutuando pela rua
cheia de pessoas, o Festival de Inverno a todo vapor. Guirlandas
enroladas em fita vermelha foram penduradas em todos os
postes, um coral canta canções em uma esquina, o cheiro de
pinheiro e canela é tão forte que permeia todo o lugar de uma
forma que quase compete com a vez que Sam descobriu o
desodorante Axe no nono ano.
Um grupo de crianças se aglomera em volta da vitrine da loja
de brinquedos, suas respirações embaçam o vidro enquanto elas
observam um trenzinho correndo em seus trilhos miniatura.
— As crianças ainda brincam com trens? — Eu pergunto para
Marley. Suas bochechas e nariz estão coradas e ela está usando
um cachecol amarelo e grosso em volta do pescoço — Isso ainda
existe?
— Acho que sim. — Ela passa o braço pelo meu, respirando
fundo o ar de canela e pinheiro, um sorriso brinca em seus
lábios. — Eu não esperava que fosse adorar isso. Todo ano
mamãe tenta me convencer a vir com ela, mas desde a Laura...
Eu beijo o topo da cabeça dela.
— Obrigado por vir comigo.