— Como está a Marley? — Sam pergunta casualmente, seus
olhos fixos na tela da TV. Eu examino o rosto dele, esperando a
facada. O comentário que é um soco no estômago.
Mas ele não vem.
— Ela está bem — respondo. Essa é a primeira vez que ele
pergunta dela por conta própria, mas não dou muitos detalhes.
Sam assente, abrindo sua cerveja e bebendo a garrafa toda
de uma vez.
Tipo... a garrafa toda.
— Cara — eu digo quando ele pega outra cerveja e abre. Eu
me inclino para a frente e a tiro da mão dele. — Olha, Sam, se
você está puto por ter visto eu e a Marley semana passada,
então...
— Não estou — ele diz, me cortando. — Quer dizer, eu queria
ficar. Eu tentei ficar, mas... — A voz dele se perde e ele evita me
olhar, correndo os olhos pela sala, para a TV, a janela, a estante
no canto. Para todo lugar, menos para mim. — Aquela luminária
é nova? — Ele pergunta, finalmente, apontando para uma
luminária que está ali desde que nós achávamos que meninas
eram nojentas.
— Vamos lá, Sam — eu digo. Eu achei que as coisas não iam
mais ser assim. Eu me viro para ele, a luz da TV se reflete na
garrafa de vidro na minha mão e me acerta bem no olho, fazendo
minha cabeça latejar.
Ela não doía há semanas, mas quando a dor volta é tão ruim
quanto antes. Isso não devia melhorar com o tempo? Eu cerro os
dentes e procuro as palavras em meio a dor.
— O que quer que esteja acontecendo, fala logo.
Ele finalmente me olha com a expressão séria.
— Eu vou embora.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto quando ele começa
a se remexer de nervoso, suas pernas balançando
freneticamente. Dou um chute nele como faço desde criança,
dizendo a ele para parar.
Ele dá uma risadinha desconfortável e força sua perna a ficar
parada.
— É por causa... por causa do que você viu?
car0l
(CAR0L)
#1