Logo ela desmaia na frente de Marley, cansada de todo o
exercício.
— Alguém está com sono — Marley murmura enquanto a
pega no colo e me dá um beijo no rosto. — O nome dela é
Georgia — ela diz, erguendo a filhote para mim. Georgia imita o
beijo de Marley, lambendo minha bochecha com sua língua
pequenina, seu pelo macio fazendo cócegas na minha pele.
— Prazer em te conhecer, Georgia — eu digo dando um
tapinha na cabeça dela quando ela late em resposta.
É. Bem melhor que um pato.
— A gente devia tirar uma foto — Marley diz, animada. Ela
pega seu celular do bolso e o ergue para tirar uma foto nossa.
Eu sorrio quando o flash dispara, então acontece mais uma
vez, um surpreendente raio de dor corta minha cabeça. Por um
momento eu vejo minha mãe parada diante dos meus olhos com
o mesmo vestido branco de flores que ela estava usando na noite
do acidente, o celular na mão.
Merda.
Minha primeira visão em mais de um mês. Toda vez que acho
que elas sumiram de vez... algo acontece.
Eu me recomponho, puxo Marley mais para perto e ela tira
outra foto, depois nós olhamos o resultado no celular dela.
É uma foto fofa. Marley está linda. Feliz. Seu nariz e
bochechas estão corados da corrida, o esverdeado dos seus
olhos destacado pela grama em volta. Nós dois parecemos tão
diferentes de quando nos conhecemos meses atrás no cemitério,
o peso do nosso luto lentamente está deixando nossos ombros, a
dor não está mais escurecendo nossos rostos. Nos braços dela,
a minúscula Georgia, que, por milagre, olhou na direção da
câmera.
— Me manda essa — eu peço para ela quando voltamos para
o carro, a sensação da mão dela na minha maior do que a dor na
cabeça e o desconforto no meu peito.
car0l
(CAR0L)
#1