limpadores de para-brisa tentando, desesperados, afastar a
chuva, Kim no banco do passageiro.
— Eu... eu passei por aqui de carro. Em uma noite de chuva
como essa.
Outro trovão e eu me assusto com o barulho, um relâmpago
parte o céu em dois.
— Exatamente como essa.
Espera.
Eu pego meu celular e a tela se acende, a data em letras
brancas. Sete de junho.
— Hoje faz um ano — eu sussurro.
Um ano. Um ano inteiro passou desde aquela noite.
— Vamos pra casa — eu digo, focando o olhar em Marley,
Georgia agarrada ao peito dela, gotas de chuva grudadas nas
suas bochechas.
No segundo em que nossos olhos se encontram, eu me sinto
mais calmo. Seguro.
Nossos dedos se entrelaçam e nós saímos correndo, usando
toldos e marquises como proteção até chegarmos à entrada da
minha casa. Quando chegamos, vamos direto para o porão e eu
acendo a lareira. A chama se forma quase imediatamente,
branca, amarela e laranja, comendo a madeira e nos aquecendo.
Eu me inclino para a frente para cutucar o fogo que cresce
pela lenha, engolindo-a toda. Mais um estrondo de um trovão lá
fora e, ao mesmo tempo, uma dor rápida e aguda cruza minha
testa. O atiçador cai da minha mão com um barulho alto.
Ai. Puta merda.
Eu pego o atiçador e o coloco de volta no lugar enquanto
mantenho meus olhos fixos no fogo. Isso foi...
Uma cinza salta, um flash vermelho. Por um segundo eu vejo
o reflexo das luzes vermelhas da emergência no asfalto molhado,
uma dor atordoante.
Não. Não vou passar por isso de novo. Eu me levanto,
afastando o pensamento e o quarto volta a aparecer.
Passo os dedos pelos cabelos e solto um longo suspiro. Já se
passaram muitos meses e eu ainda não gosto de tempestades.
car0l
(CAR0L)
#1