Eu não sei por que essa está disparando minha dor de cabeça
assim. Deve ser por causa do aniversário.
— Você também sente, não sente?
Eu me viro e vejo Marley no sofá, seu cabelo comprido ainda
úmido da nossa corrida pela chuva. Seu rosto está iluminado
pela luz do fogo, mas seus olhos estão focados lá fora,
encarando a tempestade através da porta-balcão. Georgia está
enrolada em uma toalha nos seus braços.
Eu me sento ao lado dela, examinando seu rosto. Ela tem
uma expressão distante e assombrada. Uma expressão que eu
não vejo há meses.
Uma expressão que eu achei que já tínhamos abandonado.
— Sinto o quê? — Eu pergunto.
— Que nós não deveríamos ser tão felizes. Como se um dia
tudo isso fosse sumir? Como... — A voz dela se perde e ela
baixa os olhos para Georgia e então para a lareira, seus olhos
observando cada canto do quarto antes de pousar em mim. —
Algo bom assim não pode durar.
Eu tomo o rosto dela nas mãos e ela tenta sorrir, mas a
tristeza permanece em volta de seus olhos, nos cantos da sua
boca. Então eu a beijo em todos os lugares que vejo. Uma
pálpebra e depois a outra, seus lábios e, então, suavemente, sua
testa. Ela ergue os olhos para mim e eu sei que esse é o
momento. Mais do que em qualquer momento antes, eu sinto as
palavras que quero dizer há meses borbulhando para fora, meu
coração disparado só de pensar em dizer a ela.
Não é mais eu amo isso. É eu amo Marley. Mais do que
qualquer coisa.
Eu repito várias vezes na minha cabeça, minha respiração
fica pesada no peito enquanto eu me preparo para dizer palavras
que eu não achei que diria de novo para alguém. Palavras que
eu nunca soube que podiam significar tanto. Palavras que eu
sinto desde aquela noite sob a lua cheia.
Mas o nervosismo passa no momento em que eu abro a boca
e as palavras fluem para fora com mais naturalidade do que
quaisquer outras antes:
— Eu te amo, Marley.
car0l
(CAR0L)
#1