mexer. Olho para baixo, frenético, e vejo que minha perna está
totalmente engessada e, quando eu tento movê-la, uma dor
irradia pelos ossos. Um sentimento de déjà-vu me toma. Déjà-vu
e horror.
— Agora acabou — minha mãe diz, pegando meu braço. —
As coisas vão voltar ao normal logo, logo. Você vai ver.
Eu puxo meu braço, soltando a mão dela, e arranco os
acessos. Quando tento me levantar, minha perna esquerda cede
sob o peso. Eu tropeço para a frente, em cima da minha mãe. Ela
ampara a minha queda, tentando manter nós dois de pé.
— Enfermeira! — Ela grita. — Eu preciso de uma enfermeira.
Alguém, por favor!
Eu me esforço para continuar me movendo, mas mãos fortes
me agarram e algo afiado acerta meu braço. Uma enfermeira...
com uma agulha. Eu caio de volta na cama, meus braços e
pernas pesados como chumbo. Tudo de repente fica lento e
pesado e minha boca luta para formar palavras.
— Eu... não... — eu consigo dizer, meus olhos focando na
minha mão. — Kimberly está... viva?
— Claro que está, querido — minha mãe diz, confusa. — Ela
vem aqui todo dia.
Espero que a visão termine. Que o resto do mundo se ajuste.
Fecho meus olhos e o rosto de Marley queima contra as minhas
pálpebras. Seus olhos cor de mel, as sardas no nariz, o cabelo
castanho e comprido. O sorriso que desponta em seu rosto
quando ela está contando uma história. A forma como ela morde
o lábio quando está pensando muito em algo. Mas, quando eu
abro os olhos, eu ainda vejo o hospital. Marley não está aqui.
O mundo escurece quando o sedativo me derruba.
Ouço vozes em torno de mim. Minha mãe. Enfermeiras entrando
e saindo.
Mantenho os olhos fechados e espero. Pelo silêncio. Pela
chance de sair daqui e encontrar Marley.
Logo o meio da noite chega e eu ouço a porta se fechar, o ar
quieto e parado, exceto pelo apito do meu monitor cardíaco.