sentindo falta delas com a agonia de um membro amputado. Eu
não me importo se minha perna nunca sarar, se meu cérebro
continuar confuso. Eu não preciso deles. É de Marley que eu
preciso.
Ela franze a testa.
— Eu não entendo. Quando foi isso?
— Ontem.
Ela estuda meu rosto.
— Ontem você estava aqui. E no dia anterior também, e no
dia anterior ao anterior.
Eu sacudo a cabeça, pensando nas consultas médicas que
eu tive, nas vezes em que vim aqui para que examinassem
minha cabeça, para ter certeza de que não estava
enlouquecendo.
— Você também estava aqui — eu digo a ela. — Você era
minha médica.
— Você abria bastante os olhos — a dra. Benefield diz. —
Mirava bem o meu rosto. Esses sonhos... Você provavelmente
me incorporou, ou outras pessoas, dentro deles. — Ela aponta
para o monitor cardíaco apitando. — Coisas que você ouviu ou
viu podem ter ido parar no seu subconsciente. Não é incomum
em comas. Suas sinapses estavam curando, reconectando,
voltando à vida. Eu apenas posso imaginar qual foi a sensação
disso pra você aí dentro.
— E a Marley? — Eu respondo.
Ela pensa por um longo momento, e abaixa o tom de voz
quando pergunta:
— Sua vida com Marley... Ela parecia uma versão perfeita da
sua vida?
Eu sinto uma onda de pavor tomar conta de mim.
Sim.
Eu tinha um trabalho no qual era bom. Uma vida. Eu estava
com a pessoa que eu deveria estar. Eu estava me tornando a
melhor versão de mim mesmo e cada dia ficava melhor.
Ela entende meu silêncio como a resposta que estava
esperando.
car0l
(CAR0L)
#1