quem ela pode ser totalmente ela mesma.
— Você acha que as pessoas deviam se acomodar? — Eu
pergunto a ela. — Mesmo não sendo o que elas querem?
Ela solta um longo suspiro e passa as pernas para fora da
cama, levantando-se para andar de um lado para o outro. Eu a
vejo prender o cabelo em um coque bagunçado, pronta para
retomar a nossa briga.
— Eu nunca disse que estava me acomodando. Eu sinto
muito pela noite do acidente...
— Eu não — eu digo, cortando-a.
Ela para e me olha.
— Quando eu pensei que você estava morta, tudo que me
sobrou foram as últimas palavras que você me disse. Eu repeti
essas palavras na minha cabeça várias vezes.
— Kyle, escuta. Eu...
— Me deixa terminar. Eu preciso dizer isso, o.k.?
Ela faz que sim, acha a cadeira atrás de si e, então, se senta
lentamente.
— Naquela noite, eu não estava pronto para te escutar
porque... eu tinha medo de que você estivesse certa. — Eu ergo
os olhos e vejo os olhos dela arregalados de surpresa. Ela
definitivamente não esperava isso. Mas eu não sou mais o
mesmo Kyle que eu era. Me virar e não te ver ao meu lado... Eu
achava que esse era o pior pesadelo possível. Mas... me virar e
saber que não havia mais você, em lugar nenhum? — Eu solto
uma respiração curta, me lembrando da dor. O ano que eu passei
pensando que ela estava morta. — Merda, Kim. Isso acabou
comigo.
Ela não diz nada, suas mãos seguram os braços da cadeira
com força.
— Mas eu ainda tinha suas palavras. Eu finalmente as
escutei. E eu aprendi a ficar sozinho. Eu aprendi quem eu era e
quem eu queria ser — eu digo, pensando em Marley. O estágio.
Aulas de jornalismo. — Eu aprendi quem eu sou. Sem você.
Ela está chocada, em silêncio. Isso nunca acontece. Eu sigo
falando, finalmente dizendo as palavras que eu precisava dizer,
mas que nunca conseguia encontrar.
car0l
(CAR0L)
#1