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Ela está aqui.
Eu sei disso imediatamente, embora não consiga vê-la. Eu
persigo sua sombra pelo corredor da minha casa, a tinta
descascando ainda mais que da última vez, mas ela está sempre
um pouco além do alcance, seu cabelo desaparecendo nas
curvas, sua mão escorregando da minha.
— Eu disse que eu não podia ser feliz assim — a voz dela diz
ao meu lado, mas quando eu me viro para vê-la, eu acordo.
Eu me sento, ofegante, meus olhos examinando o quarto de
forma automática em busca de algum traço dela que tudo e todos
me dizem que não vou encontrar.
Minha cabeça cai para trás no travesseiro, eu esfrego minhas
mãos no rosto e respiro longa e profundamente.
Quando eu inspiro, ali está... o cheiro dela. Flor de laranjeira.
Ou... eu reviro meus olhos. Madressilva.
Eu levanto a cabeça na direção da janela e inspiro de novo,
mas não sinto nenhum cheiro. Ele some com a mesma rapidez
com que veio.
Suspirando, eu me viro e puxo o cobertor acima da cabeça.
É nesse momento que o aroma de flor de laranjeira e
madressilvas me toma, como se ele estivesse costurado ao
cobertor. Eu respiro mais fundo e sei que não vem do jardim.
Nunca veio.
É o cheiro de Marley.