passando bem diante dos meus olhos. Eu, Kimberly e Sam rindo
enquanto comemos M&Ms genéricos e balas de goma que Kim
comprou na lojinha na recepção do hospital.
— ... e outra com eles — sua voz continua.
Eu me vejo através da porta, minha figura se congelando
subitamente e virando-se para me olhar de frente. Meus lábios se
movem, mas é a voz de Marley que sai.
— Não esqueça.
Nunca.
Eu a puxo para perto de mim, apertando-a com mais força
quando a chuva começa a cair a nossa volta, encharcando as
luminárias e o papel de parede com rosas amarelas começa a
descascar da parede. A única coisa que permanece seca somos
nós e a cama em que estamos deitados, Marley bem aninhada
nos meus braços.
Os jatos de água chegam cada vez mais perto, fechando-se
ao nosso redor. Eu luto para manter meus olhos abertos, para me
manter ali mais alguns minutos. Mas meu cérebro eventualmente
toma conta e, contra minha vontade, eu acordo no meu quarto de
hospital, onde ainda é meio da noite. Braços vazios. Sozinho.
A água bate com força na minha janela e me assusta.
Ela para abruptamente e começa de novo alguns segundos
mais tarde. Começa e para, várias vezes, e o som ocupa o
quarto.
São os irrigadores. No pátio.
Eu me viro de lado, dando as costas para a janela, minha
perna gritando de dor. Frustrado, eu me viro de costas, mas não
consigo ficar confortável no colchão duro pra caramba do
hospital.
Viro minha cabeça para olhar o lado de fora, observando o
irrigador atacar o vidro com um barulho alto. Vejo um pequeno
caracol arrastando-se lentamente pela janela. Eu o observo
vencer o caminho.
Eu quero dizer a ele para só ficar parado e esperar. Não há
por que lutar. Mas de repente, sem aviso, ele é puxado do vidro
por um par de dedos que somem de vista tão rapidamente
quanto surgiram.
car0l
(CAR0L)
#1