Essas palavras ecoam na minha cabeça. Eu não posso te
amar, Kyle. Eu não vou. Ela disse meu nome como se já o
tivesse dito um milhão de vezes antes, como se ela me
conhecesse. Como se ela... já me amasse. Por que ela pode
dizer que não me amaria se ela já não quisesse amar?
Só então percebo que os dedos dela estão apertados em
volta dos meus. A sensação é tão familiar que eu nem notei
quando ela me segurou. Eu só sei que a mão dela segurou a
minha.
Eu viro minha palma para cima, entrelaço meus dedos nos
dela e eu imploro silenciosamente para que o universo permita
que isso dê certo. Por favor, por favor, por favor, faça isso dar
certo.
— Eu viajei por muitas estradas em busca desse tesouro
perdido, dessa parte de mim — eu digo bem baixinho.
Ela ergue os olhos, assustada, enquanto eu enfio a mão no
bolso.
— Mas foi você quem a encontrou e devolveu pra mim — eu
digo erguendo minha mão, meus dedos fechados em torno de
alguma coisa. — Agora eu quero dá-la a você.
Marley olha da minha mão para o meu rosto, curiosa. Ela
baixa os olhos de novo e eu abro lentamente os dedos.
Aninhada no meio da minha mão está uma pérola branca
perfeita.
Eu ouço uma curta inspiração quando eu levanto a mão de
Marley e coloco cuidadosamente a pérola em sua palma. É
demais. Os lábios dela estremecem e a represa rompe. Lágrimas
que ela segurou por anos finalmente saem. Eu a envolvo com os
braços enquanto seus ombros tremem e ela enfia o rosto no meu
peito.
Fico ali sentado, abraçando-a, deixando-a chorar. Eu a
mantenho segura enquanto ela sente a dor que nunca se
permitiu sentir.
Depois, nós ficamos sentados sob a cerejeira, os olhos dela
ainda vermelhos e inchados.
Ela puxa florzinhas do meio da grama, dezenas de pequenos
botões que enchem o chão a nossa volta.
car0l
(CAR0L)
#1