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Dói respirar.
Tudo está muito claro e fora de foco, as vozes e rostos
aparecem em explosões de cor e som. Quero fechar os olhos,
dormir. Mas estou em algum tipo de movimento constante.
— Trauma grave na cabeça.
— Fratura craniana com depressão.
Os azulejos brancos do teto embaçam. Máquinas apitam.
Mãos enluvadas me tocam.
— Kyle? Kyle. Olhe pra mim.
Tento focar na voz e vejo que ela vem de uma mulher. Seu
cabelo ruivo está preso em um rabo de cavalo feito às pressas e
algumas mechas caem em volta de um par de olhos azuis
intensos que rapidamente entram no foco.
— Bom. Isso é bom. Eu sou a dra. Benefield. Sou
neurocirurgiã — a boca dela diz e eu me centro no movimento
dos seus lábios para tentar entender o que ela está dizendo. —
Eu vou cuidar de você, o.k.?
Ela tem uma auréola de luz em volta da cabeça, acendendo o
vermelho do seu cabelo. Eu a encaro e outra voz chama minha
atenção.
— Fêmur fraturado e lacerações interescapulares...
— Esse cara fala demais, não é? — Ela diz, me dando uma
piscadela rápida e confiante.
Seus olhos azuis estudam minha testa enquanto ela me
pergunta que tipo de música eu gosto. Uma exaustão irresistível