Os olhos de Marley observam todas elas, o semblante
esperançoso. Esperança. Eu posso trabalhar com isso.
— Essas são memórias esperando pra acontecer — eu
prometo a ela. — Você criou esse lugar escuro porque você acha
que é isso que você merece. Não é, Marley. Você merece uma
vida boa. Uma vida feliz. Eu prometo tentar todo dia te dar isso,
construir isso com você, juntos.
Eu me aproximo mais, deixando só um sopro de espaço entre
nós. Ela vai fechar esse espaço? A escolha é dela. Eu fecho
meus olhos e espero, torcendo e rezando para ela ter me ouvido.
Então eu sinto os lábios dela nos meus. O alívio me deixa tonto.
Eu a beijo de volta, então abro meus olhos e fico surpreso ao
ver que ela está chorando, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Marley? O quê...
Uma luz surge atrás de mim. Eu sinto seu calor na minha
roupa quando ela banha o rosto de Marley. Ela encara a luz e um
soluço escapa dos seus lábios.
O pavor sobe de novo pela minha nuca quando eu me viro e
vejo o que Marley vê.
Ali, parada bem na frente do grande canteiro de lírios, está
Laura.
Ela está iluminada por alguma luz sobrenatural, parada no
meio de um círculo brilhante, como o sol durante um eclipse. Ela
ergue a mão como se fosse pegar alguma coisa. Com um
sentimento profundo, eu sei exatamente o que ela quer alcançar.
Marley.
Marley sai dos meus braços.
— Não. Marley, não. Não faça isso — eu imploro, todo o ar
dos meus pulmões saindo com essa súplica. — Por favor, Marley.
Fica.
Ela ergue os olhos para me encarar, o esverdeado iluminando
a cor de mel como fogos de artifício. Eu observo bem, tentando
memorizar seu rosto e seus olhos, porque eu estou morrendo de
medo dessa ser a última vez que eu vou vê-la.
Ela sabe o que eu estou pensando. Seus dedos traçam a
minha cicatriz, minhas sobrancelhas, minhas bochechas, e
pousam nos meus lábios.
car0l
(CAR0L)
#1