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Eu apoio minha cabeça enfaixada no vidro frio da
janela do carro e observo as gotas de chuva refletirem o
vermelho da luz de freio a nossa frente enquanto minha mãe
dirige. Já faz duas semanas inteiras e eu ainda não consigo
acreditar.
Eu achava que terminar o namoro seria o pior jeito de perdê-
la e a pior dor que eu poderia sentir, mas isso... Eu não posso
consertar isso. Eu não posso comprar uma pulseira de berloques
e consertar as coisas.
Ela realmente se foi. Enterrada no cemitério local há cinco
dias em uma cerimônia que eu estava arrasado demais para
conseguir assistir.
Ao chegarmos em casa, eu fico parado na chuva, com a caixa
de papelão do hospital apertada contra o peito. Dentro dela estão
meus sapatos sociais, os farrapos que restaram do meu paletó e
a pulseira de berloques que deve estar escondida em algum
lugar dessa bagunça, seus elos vazios que nunca mais serão
preenchidos.
A chuva para abruptamente. Eu ergo os olhos e vejo um
guarda-chuva preto acima de mim. Minha mãe estica o braço
para tocar o curativo ensopado na minha cabeça, mas eu afasto
suavemente a mão dela. Eu não quero ser reconfortado ou
cuidado. Não vai funcionar, de qualquer forma.
— Eu só preciso que você fique bem — ela sussurra para
mim, sua boca mal se movendo.