perda de tempo que isso é.
A tremenda perda de tempo que é tudo.
Agarrando minhas muletas, ergo meu peso para fora da
cadeira vermelha grudenta e, quando saio, jogo o pacote de
pipoca quase cheio no lixo.
Chego em casa com o corpo todo ardendo e minha camiseta
completamente ensopada de suor.
Eu paro na varanda e pouso minha mão na maçaneta,
ofegante, me recompondo antes de entrar.
Da entrada, eu dou uma olhada na sala de estar e vejo minha
mãe se levantar do sofá, a preocupação repuxando sua boca e a
ruga na sua testa.
— Eu estava tão preocupada com você...
— Eu estou bem — eu a corto, querendo que minha voz
pareça firme, mas ela sai toda errada, áspera e resmungona.
O chão de madeira estala quando ela se aproxima de mim e
ergue meu celular. A tela se acende e mostra uma série de
chamadas perdidas e mensagens.
— Você saiu sem o celular. Eu não tinha como ligar e saber
se algo tinha acontecido com você.
Eu o arranco da mão dela e tento passar para a porta que
leva ao porão, mas quando dou um passo para o lado, fico cara a
cara com uma foto na parede. Somos nós dois, no verão depois
que meu pai morreu, os braços dela em volta de mim e eu dando
um sorriso banguela para a câmera. Só que eu consigo ver algo
por trás do sorriso dela. Algo que agora eu reconheço. A perda.
Dou um passo para trás e a abraço, sentindo aquele perfume
familiar que ela sempre usa.
Quando ela passa os braços em volta de mim, os mesmos
braços que me apertaram naquele verão, eu pisco com força
para manter o controle.
Eu me afasto e corro para o meu quarto, minha respiração
saindo em soluços irregulares, imagens da sorveteria, do cinema
e do momento antes da batida se confundindo enquanto o