O túmulo não está coberto de grama ou negligenciado. Na
verdade, alguém já deixou um enorme buquê de tulipas azuis ali,
com cores vivas o suficiente para ter um toque de lilás na base
de suas pétalas regulares.
Tulipas azuis.
Eu olho para as íris na minha mão. Merda. Tulipas azuis eram
definitivamente as flores favoritas dela. Eu consigo ouvi-la nesse
momento me dizendo que ela as amava porque combinavam
com seus olhos.
Íris são apenas as primeiras flores que eu comprei para ela.
Se Kim estivesse aqui, ela se recusaria a falar comigo pelo resto
do dia. Ou da semana, se ficasse especialmente chateada com
isso.
Deus, eu a amava, mas eu odiava quando ela fazia isso.
Eu a amo, eu me corrijo. Eu sempre vou amá-la. Qual o
problema comigo, pensando nisso num momento desses?
Eu coloco meu triste buquê de íris ao lado das tulipas e minha
mão toca na pedra cinza e áspera. Meus dedos traçam o nome
dela. Os últimos meses me trouxeram até esse momento.
— Kim...
Eu paro, colocando a mão inteira na lápide, todos os
sentimentos que eu mantive enterrados me atingindo ao mesmo
tempo. Eu não consigo fazer isso. Não consigo estar aqui. Não
ainda.
Mas respiro fundo e tento começar de novo.
— Eu... Eu não acredito nisso. — Sacudo a cabeça enquanto
minha garganta arde. — Eu não posso acreditar nisso. Mas todos
os dias quando eu acordo tenho que encarar que você não está
mais aqui.
Eu sinto uma pontada de dor na minha têmpora, uma
irradiação que vem de um único ponto, quase um chiado. Eu a
esfrego com a ponta dos dedos e luto para continuar.
— Se eu pudesse fazer tudo outra vez, eu não teria ficado tão
bravo na festa — eu digo, finalmente. — Eu não teria forçado
aquela conversa no carro. Eu teria escutado quando você disse
que queria...
car0l
(CAR0L)
#1