Eu estico a mão e toco uma das flores, a pétala macia sob a
ponta dos meus dedos.
— Lírios orientais — uma voz diz ao meu lado.
Jesus Cristo. Eu dou um salto, quase tendo um ataque do
coração quando olho e vejo Marley em pé ao meu lado, seu
cabelo comprido preso com um elástico amarelo. Ela pega o lírio
que eu estava tocando, seus olhos cor de mel examinando-o.
Meus olhos estudam a lápide aninhada entre as flores cor-de-
rosa.
— Minha irmã. Laura — Marley diz suavemente antes que eu
possa perguntar. — Ela era minha heroína. Me amava
exatamente como sou — ela diz, como se estivéssemos
continuando uma conversa já começada. Ela coloca a flor no
topo da lápide. — Ela não se importava se eu era diferente. Ou
sensível. Ou quieta.
Ela ergue os olhos para me olhar e eu finalmente consigo ver
de onde a intensidade do seu olhar vem. É da perda, enterrada
no mel profundo, uma dor familiar enrolada em volta da íris. Eu
conheço essa dor. É como olhar num espelho.
— Eu queria ser igualzinha a ela — ela acrescenta, desviando
o olhar e voltando seu rosto para as flores.
— Quantos anos você tinha quando ela...
— Nós tínhamos acabado de fazer catorze.
Nós? Mas antes que eu possa perguntar, ela responde isso
também.
— Gêmeas — ela diz.
Merda.
— O que aconteceu?
— Ah, eu não conto histórias tristes — ela diz. Então ela sorri
com tristeza, e é como se uma cortina descesse atrás dos seus
olhos.
Certo, então. Esse é claramente um ponto sensível. Nós
ficamos em silêncio por um bom tempo.
— Ah! — Ela tira do ombro a bolsa amarela que está
carregando e me surpreende ao puxar uma única flor de um
bolso lateral. Seus olhos estão límpidos, e ela a estende para
mim como se eu tivesse pedido que ela a trouxesse.
car0l
(CAR0L)
#1