Então eu volto para a borboleta e a observo chegar cada vez
mais perto da margem. Quase... Quase...
— Kimberly não sobreviveu — eu digo, me forçando a tentar
falar sobre isso, mas eu mantenho meus olhos fixos nas asas
azuis da borboleta.
Elas cedem e a borboleta cai sobre a superfície da água, tão
perto da margem, mas ainda não o suficiente. Ela tem um
espasmo, lutando contra a corrente. Eu corro para a beira do
lago e pego o inseto na mão com cuidado.
Olho para a água. Algo não está certo. Olho mais de perto e
percebo que... não me vejo. Tudo o que vejo são os galhos
acima da minha cabeça, o contorno das folhas. O cinza de
tempestade das nuvens no céu acima delas.
Franzindo a testa, eu me aproximo.
Ali está até mesmo a borboleta, mas não... eu.
Como se eu não tivesse um reflexo.
Engulo em seco e tento me recompor enquanto a dor familiar
desabrocha na minha cabeça. Eu luto para me manter presente,
não deixar que meu cérebro ferrado tome conta, e então as
palavras do bilhete da dra. Benefield surgem na minha mente:
Relaxe. Isso não está acontecendo de verdade.
Então foco no meu coração batendo no peito, minhas costelas
subindo e descendo em volta dele, a borboleta se debatendo na
palma de minha mão.
Outro reflexo aparece na água. É Marley, com uma expressão
preocupada. Eu olho para ela rapidamente e a borboleta decola,
ainda com dificuldade, mas se movendo.
— Pobrezinha — Marley diz enquanto a observa ir embora.
Olho de volta para a água, prendendo a respiração, e dessa
vez meus olhos me encaram de volta, escuros e apavorados.
Imediatamente me sinto um idiota. Provavelmente pareceu que
eu estava surtando por causa de uma borboleta.
Esses espasmos cerebrais estão ficando mais esquisitos, em
vez de melhorar. Eu ergo a mão para tocar minha cicatriz, mas
disfarço passando os dedos casualmente pelo meu cabelo. A
dra. Benefield disse que isso acontece porque estou me
car0l
(CAR0L)
#1