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Marley se aproxima de mim, examinando a cicatriz,
três dias depois da minha última visão e do meu primeiro corte de
cabelo em três meses. A marca está bem visível agora, e quando
Marley se inclina na minha direção eu tento me distrair
encarando a grama, ou as árvores, ou as pessoas passeando no
parque. Então... ela ergue a mão para tocá-la, seus dedos mal
encostando na minha pele. Ela o faz com tanta suavidade que
causa uma sensação eletrizante.
É estranho, é como se meu corpo estivesse acordando.
— O que aconteceu? — Ela tira a mão e percebo que estava
segurando a respiração esse tempo todo.
— Eu não conto histórias tristes — digo, provocando-a.
Ela ergue as sobrancelhas, me desafiando.
— Ah, é assim que vai ser? Só vai contar se eu contar?
Eu silencio, porque percebo que o que está acontecendo é
exatamente o contrário do que eu quero. Eu quero contar a ela.
Sobre o acidente. Sobre Kim. Ela é a primeira pessoa com quem
eu quis conversar disso tudo.
— Eu acho... — eu digo, mudando de posição para apoiar
minhas costas na cerejeira, minha voz se perdendo. — Acho
apenas que não conto histórias.
— Sim, você conta. Todos nós contamos — Marley diz,
cruzando as pernas sob o corpo. — Nós estamos contando uma
história agora mesmo. Decidindo como ser, o que dizer, o que