Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1
Folha de Ipê preto com múltiplas manchas ocasionadas pelos fungos
Pseudocercospora sp. e Phomopsis sp

Ipê preto leaf with multiple spots caused by the fungi Pseudocercospora sp.
and Phomopsis sp

Diversas epidemias de ergotismo, tanto gangrenoso,
quanto convulsivo que foram relatadas desde 600 a.C., matan-
do milhares de pessoas. Foi causada por um fungo que incidia
sobre os grãos de centeio e produzia estruturas rígidas como
se fosse uma espora de galo. Nesta estrutura há diversos alca-
lóides, dentre eles o LSD. Ao se colherem os grãos de centeio
contaminados, o pão era preparado e assado. A temperatura
dos fornos matava o fungo, mas não desativava os alcalóides,
provocando a doença. Somente em 1853, Louis Tulasne, mico-
logista e ilustrador, concluiu que era o fungo Claviceps purpurea
que aparecia entre os grãos de centeio e não o próprio centeio
que a causa da doença.


A grande fome da batata por volta de 1846 na Irlanda
que causou a morte de mais de dois milhões de pessoas e a
emigração de um milhão, foi devida a requeima da batata, infec-
ção ocasionada pelo “fungo” Phytophthora infestans nas plan-
tações de batata daquela região. Este tubérculo constituía o
principal alimento da população e o clima proporcionou naque-
le ano, condição adequada para o desenvolvimento do fungo e
a epidemia foi devastadora, dizimando as plantações da noite
para o dia e culminando com a destruição de 80% da produção.


Outra ferrugem no cenário epidêmico, foi o fungo He-
mileia vastatix, conhecido como a ferrugem do cafeeiro, dizimou
as plantações de café até 1870, no Ceilão (hoje Sri Lanka), obri-
gando os ingleses a buscarem outra bebida quente e estimu-
lante para suportarem os rigorosos invernos a que eram sub-
metidos. Foi por esse motivo que encontraram o famoso chá, o
chá inglês. Este mesmo fungo apareceu nas plantações de café
do Brasil cem anos depois, na década de 1970, causando alar-
me e fazendo com que as lavouras de café do país fossem em
parte perdidas. Hoje se convive bem com a doença, embora as
perdas de produção pela ferrugem sejam sempre preocupantes.


No ano de 1943 foi a vez de do fungo Bipolaris oryzae
(antigamente conhecido como Helminthosporium oryzae) que
incidiu sobre as plantações de arroz e causou a perda de até
90% da produção em Bengala (dividida entre a Índia e Bangla-
desh), que envolvida pela guerra, provocou fome em massa e a
morte por desnutrição de 1,5 a 3 milhões de pessoas durante
aquele período.


No Brasil, temos o relato interessante do “mal das fo-
lhas da seringueira”, doença causada pelo fungo Pseudocer-


cospora ulei (= Microcyclus ulei) que incide sobre as folhas de
Seringueira. No ano de 1934 provocou uma violenta epidemia
dizimando os seringais da cidade de Fordlândia, no estado do
Pará. Esta cidade foi construída pelo empresário Henry Ford,
em plena selva amazônica, para servir de área de produção da
borracha utilizada nas suas indústrias automobilísticas. Uma
nova plantação ainda maior foi realizada, posteriormente na ci-
dade de Belterra e, em 1942, também foi dizimada pelo fungo.
Fordlândia e as outras plantações tiveram de ser abandonadas.

Em 1970 o fungo Bipolaris maydis (= Helminthospo-
rium maydis) provocou nos Estados Unidos da América a perda
de 20 milhões de toneladas de milho, e os americanos só enten-
deram a gravidade do problema quando as cifras foram trans-
formadas em perda de 30 bilhões de hambúrgueres.

Desde então, inúmeras epidemias e preocupações com
fungos em plantas tomaram lugar na sociedade, podendo ser
destacadas algumas que, de certa forma tornaram-se mais
bem divulgadas e documentadas, como:


  • O carvão da cana de açúcar, em 1981, doença cau-
    sado pelo fungo Sporisorium scitamineum (= Ustilago scitami-
    nea);

  • A ferrugem marrom da cana, em 1986, doença causa-
    da pelo fungo Puccinia melanocephala;

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