Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1
Grupo de trabalho do LAQUIBIO na Reserva Caruara
LAQUIBIO team working in Caruara Reserve

que eles são capazes de produzir compostos fitoquímicos, que
são reconhecidamente produtos naturais produzidos por suas
plantas hospedeiras(45). Durante o período de co-evolução, os
microrganismos endofíticos adaptaram-se aos microambientes
das plantas hospedeiras através de mudanças graduais em seus
genes, provavelmente inserindo parte dos segmentos de DNA
das plantas em seus próprios genomas, ou vice-versa. Isto pode
ter contribuído para a capacidade dos endofíticos promoverem
a biossíntese de alguns fitoquímicos originários de suas plan-
tas hospedeiras (46; 47). Sob o ponto de vista co-evolutivo, estes
microrganismos utilizam da secreção de metabólitos secundá-
rios para aumentar a resistência de plantas às adversidades do
ambiente (46; 48; 49). Existe a hipótese de que os endófitos possam
provocar um efeito mosaico, ou seja, criar um meio quimicamen-
te heterogêneo dentro dos órgãos da planta, reduzindo a pala-
tabilidade da planta hospedeira aos herbívoros ou reduzindo as
condições favoráveis ao desenvolvimento de um patógeno (50).


Apesar das investigações já realizadas sobre os micror-
ganismos endofíticos serem insuficientes para se compreender
de forma abrangente os princípios bioquímicos, moleculares e
evolutivos, uma hipótese criada recentemente baseia-se na ca-
pacidade dos endófitos de produzir metabólitos específicos par-
tindo-se de três princípios: (1) a evolução de um fungo endofíti-
co para produzir metabólitos produzidos pela planta hospedeira
está sujeita a uma pressão de seleção idêntica, sendo específica
de um órgão da planta; (2) este potencial pode não surgir ao aca-
so, mas sim depender dos genótipos da planta e do endofítico; (3)
os fatores ambientais podem favorecer o aumento da biodiversi-
dade e da população dos endofíticos, expondo um maior número
de características do endofítico a uma determinada pressão de
seleção na planta (50).


A bioprospecção de endófitos oferece a promessa de
descoberta de metabólitos secundários de plantas e seus aná-
logos, além de conduzir a novos compostos de valores terapêu-
ticos (45). Os metabólitos produzidos pelos endófitos constituem-
-se em fonte expressiva e inexplorada de estruturas químicas
únicas, como alcalóides, esteróides, terpenóides, isocumarinas,
quinonas, fenilpropanóides, ligninas, fenóis e ácidos fenólicos,
metabólitos alifáticos, lactonas, citocatalasinas, flavonóides,
peptídeos e xantonas, dentre outros (51; 52), que foram modificadas
durante a evolução das espécies e em resposta às alterações em
seus habitats, produzidas para a comunicação planta-endófito
(53) que geram diversos compostos valiosos com atividade anti-


microbiana, inseticida, citotóxica, anticancerígena (47;54) imunos-
supressores, antiparasitários e anti-oxidantes (55) hormonais, an-
titumorais, antivirais entre outras (56).


Uma vez que o número de espécies vegetais é grande, a
pesquisa por endófitos produtores de compostos bioativos re-


quer estratégias para aperfeiçoar esta busca e tornar mais bem-
-sucedida à indicação de microrganismos promissores. A produ-
ção de metabólitos de interesse biotecnológico pela planta pode
ser um fator relevante na escolha do hospedeiro como alvo de
pesquisa, devido à possibilidade do endofítico ter adquirido ge-
neticamente a capacidade de produzi-los durante sua co-evolu-
ção com o hospedeiro, ou vice-versa. Outra hipótese é a pressão
de seleção exercida por fatores ambientais específicos de cada
bioma(47;50), ainda mais daqueles pouco explorados para este fim,
como os mangues e as restingas.

A identificação das estruturas químicas de compostos
bioativos, permite a possibilidade de produção da substância de
interesse em escala industrial. Isso proporcionaria, dentre outras
coisas, a proteção de espécies vegetais de crescimento lento ou
em risco de extinção que se configuram como potencial fonte de
bioprospecção para a indústria(57). A busca por metabólitos pro-
duzidos por fungos endofíticos com fins fitossanitários pode ser
uma alternativa segura ao meio ambiente quando comparados
aos inseticidas sintéticos(58). Inúmeros trabalhos têm apresenta-
do resultados satisfatórios no uso desses compostos no con-
trole de patógenos humanos(49;59), fitopatógenos do solo(60; 61) e
pragas(48). Em consequência de constituírem-se potenciais subs-
titutos aos produtos químicos, e exercerem ações de biocontrole
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