Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

para ela um processo de subsidência após 5.100 A.P., responsá-
vel por sua baixa altitude atual. Entre a foz dos rios Itapemirim e
Guaxindiba, os depósitos arenosos pleistocênicos atingem um
desenvolvimento notável somente no vale do rio Itabapoana.


A restinga norte, por sua vez, formou-se após a última
transgressão, cujo máximo foi alcançado em 5.100 A.P, sendo,
portanto, uma restinga holocênica bem nova quando compara-
da com a restinga sul. Os autores retomam o delta pé de ganso
proposto por Lamego e negado por Gilberto Dias. De fato, este
tem razão em contestar aquele neste aspecto, porquanto um
delta deste tipo seria inviável em mar aberto. Não, contudo, no
interior de uma laguna semiaberta(40, 43).


O I Simpósio sobre Restingas Brasileiras, promovido na
Universidade Federal Fluminense, em 1984, constituiu-se em
grande marco nos estudos sobre geologia e ecossistemas de
restinga. Os primeiros estudos sistematizados e reunidos sobre
este ambiente foram apresentados nele. No que toca à limnolo-
gia, um estudo pioneiro foi empreendido por três pesquisadores
nas lagoas de restinga Iodada, Imboacica, Cabiúnas, Comprida,
Carapebus, Paulistinha, Paulista e Campelo. Numa das conclu-
sões dos autores:


Regionalmente, as lagoas costeiras fluminen-
ses têm grande importância tanto do ponto de
vista de produção de peixes e crustáceos de
alto valor proteico e econômico, como também
são importantes áreas de lazer para a popula-
ção. No entanto, a maioria dessas lagoas tem
sofrido profundas alterações nas suas condi-
ções naturais. Essas alterações são causadas
principalmente pelo lançamento de efluentes
domésticos e industriais, pelo assoreamento
de suas margens e pela retirada de depósitos
calcários para fins industriais. Uma das prin-
cipais consequências dessas alterações que já
podem ser observadas atualmente é o início do
processo de eutrofização. Lamentavelmente,
essas alterações estão ocorrendo sem o prévio
conhecimento científico desses ecossistemas,
o que dificultará a sua possível recuperação futura.^

Em 1995, uma engenheira e uma bióloga da Fundação
Superintendência Estadual de Rios e Lagoas − SERLA pro-
cederam a um levantamento das lagoas do Estado do Rio de
Janeiro, tomando por base as folhas da planta do Brasil em
escala 1:50.000. Este inventário revelou que o Estado do Rio
conta com 105 lagoas, sendo que, destas, 67 localizam-se en-
tre os rios Macaé e Itabapoana, limites do Distrito de Campos
dos Goitacás no século XVIII. Assim, a verdadeira região dos
lagos é o norte fluminense, que muito mais jus faria a este


título se fossem computadas as profusas e dilatadas lagoas
totalmente drenadas pelas várias instituições de saneamento
da Baixada Fluminense. Entre as 67 lagoas, as técnicas ar-
rolaram, como de restinga, trinta lagoas, a saber: Imboacica,
Cabiúnas, Comprida, Paulista, três lagoas sem nome na planta,
Carapebus, Barrinha, Campelo, Canema, Carrilho, Carvão, Casa
Velha, Chica, Maria Menina, Pires, Piripiri, Preta, Ribeira, Ro-
balo, Ubatuba, Visgueiro, Lagamar, Campelo, Grussaí, Iquipari,
do Mangue, da Praia e Salgada(45). Esse levantamento, contu-
do, ressente-se de três aspectos: foi alicerçado na planta do
Brasil do IBGE, cuja primeira edição data de 1968 e toma por
base levantamento aerofotogramétrico de 1966, até agora não
atualizado; não buscou confirmação de campo; e ignorou as-
pectos históricos das lagoas.
Ainda recorrendo à cartografia, a Carta Geológica do
Brasil, de 1954, escala 1:100.000, quadrículas Campos, São
Tomé, Lagoa Feia e Xexé, que acompanha um dos últimos tra-
balhos célebres de Alberto Ribeiro Lamego(37), estampa as duas
restingas do norte fluminense como um emaranhado inextri-
cável de terras e águas. São brejos e mais brejos intercordões,
destacando-se as lagoas do Mingote, do Peixe, do Geribá, do
Pires, de Jurumirim, de Jagoroaba, do Carrilho, Canema, de
Peri Peri, do Capãozinho, do Luciano e de Dentro. Como as
quadrículas não abrangem toda a restinga sul, o quadro não
se apresenta completo. O canal de Jagoroaba − Ubatuba, no
mapa de Marcelino Ramos da Silva− está desenhado de forma
bem clara. Conforme Sampaio(46), Jagoroaba deriva de yaguar,
onça, e aba, pêlo. Já Ubatuba pode advir de ybá-tyba, sítio de
frutas; de uyba-tyba, sítio das flechas; ou ainda ybá-tyba, sítio
das canoas. Por outro lado, a restinga norte é plenamente con-
templada, ostentando as lagoas do Açu (com o nome de rio do
Açu), da Ostra, Salgada, Pau Grande, Taí Grande, Taí Pequeno,
do Barreiro, rio do Veiga, de Quipari, de Guruçaí, do Campelo e
outras mais não nomeadas.
Curiosas são as informações contidas num mapa ar-
ticulado em três folhas que acompanha um relatório geral de
uma das empresas que trabalharam para o extinto Departa-
mento Nacional de Obras e Saneamento. À página 6, o rela-
tório esclarece que a base cartográfica para a representação
planimétrica foram as fotografias aéreas tomadas em meados
de 1955 pela FAB e alguns pontos trigonométricos determi-
nados pelo IBGE. O mapa só retrata a restinga sul a partir da
lagoa de Carapebus, registrando as lagoas Paulista, Pacheco,
da Graça, Baquipari, Padre José, do Robalo, de Alagoinha, do
Valão, de Jagoroaba, do Carrilho, Canema, Peri Peri, Capãozi-
nho, da Ribeira e outras não nomeadas. Surpreendentemente,
reaparece a lagoa Fedorenta do “Roteiro dos Sete Capitães”,
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