COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

O medo do vírus e o


conpnamento familiar têm


jogado o estresse nas alturas


e muita comida para dentro


do prato. Como entrar nos


eixos sem dietas malucas


terfO THAIS MANARMI
dr-uçr. LAURA lUDUVIG


esmagadora maioria de nós pode
afirmar, sem receio de soar exagera-
da. que está vivendo uma realidade
sem precedentes. Há quem diga que
só dá para comparar a pandemia do
novo coronavírus com o que aconteceu com a gri-
pe espanhola, que teria matado ao redor de 50 mi-
lhões de pessoas pelo planeta há 100 anos. Lá
como cá. a humanidade precisou ficar em casa
para minimizar a circulação do vírus. Só que o
confinamento em si tem seus efeitos colaterais.
Um dos mais comentados e apontados por anôni-
mos e celebridades nas redes sociais c o descon-
trole alimentar. Enquanto os passeios na rua estão
mais restritos, a cozinha e a despensa viraram o
point do momento. E o resultado disso pode ser
visto em cima da balança ou na frente do espelho.
Parte desse ato incontrolável de abre c fecha da
geladeira pode ser explicado pelo estresse do isola-
mento — que inclusive tem preocupado especialis-
tas de várias áreas mundo afora. Rcvcntcmcntc, uma
revisão de 24 estudos publicada no jornal científico
Thc lancei pelo Imperial Gol lege l.ondon. na Ingla-
tera. alertou que “o impacto psicológico da quaren-
tena é arnpk». substancial e duradouro. Entre os fa-
tores de tensão, eles listam o medo da pandemia, a
duração do confinamento. as perdas financeiras, as
informações contraditórias... Tudo isso, acredite,
pode acabar cm pizza. Ou hambúrguer, brigadeiros,
salgadinltos e outros petiscos.
Quem ajuda a explicar esse intrincado circuito
nervoso. herdado de nossos ancestrais, é a psiquiatra
Christina de Almeida dos Santos, secretária da Co-
missão dc Transtornos Alimentares da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP): “Quando estamos
diante dc um perigo, o organismo se prepara para
nos defender. Para isso, de libera hormônios como
adrenalina e cortisol na circulação
, descreve. Com
o impulso dessas substâncias, estoques dc glicose
são jogados no sangue — tudo para gerar energia e


facilitar uma reação de defesa. No mundo moderno
nâo e diferente: o principal gatillro desse processo é
o estresse. Quando ele diminui vem um apetite ca-
valar para repor a reserva de combustível utilizada.
"Ai vamos atrás dc itens com alta densidade calórica.
como os ricos em açúcar, gorduras e carboidratos*
relata Christina. que também é coordenadora da
ATA — Atenção aos Transtornos Alimentares, de
São José dos Pinhais (PR). Ocorre que. devido à pan -
demia dc Covid-19. a doença provocada pelo coro-
navirus, o alarme do estresse pode ficar ativo quase
24 horas por dia. culminando em uma procura qua ■
se constante por comida apetitosa.
Esse não c o único caminho que leva até o armá-
rio das guloseimas. No lugar de tensão, podem sur-
gir tristeza, insegurança, frustração, tedio c desespe-
ro Ao passar por essa montanha-russa de emoções,
uma porçào dc gaite c atraída por aquilo que os es-
tudiosos chamam dc comer emocional. "Ele aconte-
ce quando nos alimentamos não por fome fisiológi-
ca. mas. sim. para buscar conforto c alivio cm
resposta a esses sentimentos* esmiuça a nutricionis-
ta Ana Feoli. professora da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e coorde-
nadora dos grupos de pesquisa em estilo de vida e
saúde da instituição
No fim dc maio, o programa Vigilantes do Peso
divulgou um levantamento sobre hábitos na pande-
mia que evidencia bem essa situação. Ele foi bareado
em um questionário respondido por 2 289 pessoas
dc todo o território brasileiro — 96.7% relataram es-
tar cm isolamento social, sendo que 87.1% viviam
confinadas havia mais de um mós. Os dados indicam
que 27% dos indivíduos se sentiam descontrolados e
ansiosos c, por isso, admitiam que andavam comen-
do "muito mais do que o normal*. Segundo o nutri-
cionlsta do programa Mathcus Motta, trata-se da tal
fome emocional. “O indivíduo come para suprir um
sentimento", ressalta. Mas ele já esperava ver mu-
danças nos hábitos dos indivíduos ã mesa. “Quando
há alteração na rotina, a alimentação segue esse mo-
vimento". explica.
A nutricionista Lara Natacci, pós-doutoranda
na Universidade de São Paulo (USP) e estudiosa da
relação entre alimentação e emoções, também
acha compreensível que a reviravolta no dia a dia
acabe interferindo na dieta e resultando no surgi-
mento da confusão entre fome física c vontade dc
comer. “Fora que estamos passando mais tempo
dentro dc casa e. consequentemente, perto da cozi-
nha". lembra. "Isso favorece tanto o comportamen-
to de comer mais quanto o de se alimentar em ho-
rários diferentes". acrescenta Lara. Nasce, assim, o
famoso perfil beliscador. ®

0OUTRO LADO
DO APETITE
Enquanto tem
gente que procura
refugio no comida,
ha uma parcela que
se ve desestimuloda
a se alimentar
na quarentena
Ou pior: decide
se impor uma
dieta rigorosa
na tentotrva
de controlar
o peso. Esse
pessoal tombem
merece um olhar
cuidodoso. „Ha
risco de o sistema
imunokigico sair
abalodo". alerto
Lara Natacci.
nutricionista dc
Soo Paulo. Uma
alimentoçòo restrita
pode noo entregar
os nutrientes
necessários paro
o metabolismo
funcionar direito",
justifica. Poro
o nutricionista
Mathcus Motta,
do programa WW
Vigilantes do Peso,
lambem noo e o
melhor ocasioo
para definir grandes
meios, como virar
vegetanano.
"Sc quiser reaiirar
mudanças, o
Ideal ê fort4a$
oos poucos”,
orienta. Assim,
cai o probobílidode
de se frustrar.
De emoções
fortes, bastam
as desencadeadas
pela pandemia
cm si.

VfJA SAUOt jUAHOJOJO
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