A tempestade inflamatória
é um dos principais
fenômenos por trás dos casos
graves de Covid-19. Ela pode
► afetar os pulmões, o coração,
o cérebro, os rins...
A identificação dos trombos pelos pulmões e
pela circulação cm geral foi uni dos marcos na com-
preensão da real amplitude da nova doença. "Trom-
boses já são observadas em casos graves de sepse.
gripe c outras infecções respiratórias, mas são mais
frequentes na Covid-19", afirma o cardiologista
Belmnood Bikdeli, do Centro Médico da Universi-
dade Colúmbia. cm Nova York. cidade que foi o epi-
centro da pandemia nos Estados Unidos. Dois dias
depois da divulgação do estudo encabeçado pela
brasileira Elnara Ncgri. o professor americano publi-
cou uma pesquisa descrevendo o mesmo fenômeno
no jornal do Colégio Americano de Cardiologia.
Para entender com minúcia por que ele ocorre,
precisamos desbravar outra particularidade da in-
fecção pclocoronavirus, a tempestade inflamatória.
Quando o patógeno invade uma célula e se multipli-
ca. há uma rc (^) a-padrão do nosso sistema imune
— c isso também vale para outros virus c bactérias.
"As células infectadas avisam que estão sob ataque e
o corpo libera substâncias inflamatórias", explica a
bióloga Karina Bortoluci, vice-presidente da Socie-
dade Brasileira de Imunologia. Essas mensageiras,
as citocinas, são cruciais, jã que mobilizam células
de defesa para entrar rapidamente em cena. A tor-
menta controlada c proposital causa febre c mal-es-
tar, sintomas clássicos de doenças infecciosas.
“Contudo, se essa resposta persiste e não é sufi-
ciente para controlar a infecção, pode começar a
causar danos", aponta Karina. É o que se observa
nos quadros graves de Covid-19: uma verdadeira en-
xurrada de citocinas. que, depois de inflamar os pul-
mões, passa a fazer estragos em outros órgãos e es-
truturas. A tempestade castiga cspecialmente a
parede dos vasos sanguíneos. "Essas moléculas le-
sionam a região, e o organismo libera mais plaquetas
c substâncias coagulantcs para tentar cicatrizá-la",
descreve Olga Ferreira de Souza, diretora de cardio-
logia da Rede Dür. Nesse ciclo constante de machu-
cados e reparos, a coagulação fica bagunçada e as
moléculas deflagradas acabam se embolando, o que
culmina no entupimento de veias e artérias
Os vasos menores e mais estreitos são atingidos
primeiro, entre eles os do pulmão e aqueles que
abastecem o coração. “O que tem nos surpreendido
c o infarto cm indivíduos sem comprometimento
nas artérias coronárias, que sào geralmente as envol-
vidas nesses casos", observa o cardiologista Alexan-
dre Abizaid, do HCor, cm São Paula As tais coroná-
rias são mais amplas e toleram melhor os trombos.
diferentemente de suas vizinhas, que. obstruidas.
também levam à morte de células cardíacas. Se adi-
cionarmos a isso as complicações do coronavirus
cm pessoas que já tem um coração fragilizado, com-
preendemos por que ele é um dos órgãos mais afeta-
dos pela Covid- 19 — as panes aii representam a se-
gunda causa dc morte nas UTIs boje.
Não para aí- o músculo cardíaco pode ser alvo do
patógeno cm si. “Células do coração também pos-
suem na superfície a enzima usada pelo virus para
invadi-las”, detalha Olga. A infecção, ainda que me-
nos comum, é conhecida como miocarditc. Além
dela, sujeitos com propensão ou fatores de risco es-
tão mais vulneráveis a arritmias c insuficiência car-
díaca. Isso sem contar que diabetes, pressão alta e
histórico de problemas cardiovasculares elevam o
perigo dc a Covid-19 agravar, sabotando o corpo
todo. Por fim, a pandemia traz uma ameaça indireta
ao peito: o fato de muita gente estar com medo de ir
ao hospital c. assim, negligenciar sintomas dc infarto
ou outro chabu, relacionado ou nâo ao coronavirus.
Em quem a doença bale mais forte
Antes de seguirmos por outros reflexos da infecção
da cabeça aos pés. convém reforçar que essas en-
crencas mais sérias, salvo raríssimas exceções, estão
ligadas a dois fatores, o envelhecimento e a presença
dc doenças crônicas já existentes. "Todos os estudos
demonstram que os idosos têm maior risco de com-
plicações". ressalta Olga. Um deles, conduzido pela
Universidade Harvard, nos EUA, com 9 mil pacien-
tes tratados em 169 hospitais de diversos países,
conclui que a idade é o principal aspecto associado à
morte por Covid-19. No Brasil, quase 70% das viti-
mas fatais têm mais de 60 anos. Mas. em que pese o
impacto na imunidade, a data dc nascimento não é
uma sentença — afinal, existem muitos idosos se re-
cuperando c casos severos ocorrendo entre jovens.
Uma teoria é que certos anticorpos, menos habilido-
sos. estariam ligados à superinflamação a despeito
da idade. E é dc esperar que quem se cuida c enve-
lhece bem esteja mais protegido. ®
TRATAMENTOS
EM ESTUDO
Um balanço sobre os
remédios pesquisados
para deter a Covid19
Cloroquina
Os resultados dos
testes com o ckxoquvia
cahidroxidoroquino
sâodesarwnadores
e inconclusivos.
Hoje das podem ser
peesentos paro quodros
moderados e graves
da doença
Antivirais
Promissores no
inicio do pandemia,
os remedios ontiHfV
faViarom nos estudos
com humanos. 0
remdeswir. cnodo
poro combater o
ebolo. parece reduzir
o tempo de «nernoçôo
c fa oprwodo nos
Eslodos Unidos.
Anlicoagulantes
Aheporinojâêusoda
cm boa parte das
pessoas que precisam
fkornoUTIou
cerrem moor nsco de
desenvobtr coágulos.
Hojeseimrstigooindo
umapossmd oçòo
direto controo vírus.
VIJA SAUDE