COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

OS PEQUENO


CONFINAD


O isolamento
social está
refletindo na
forma que as
crianças se
comportam e

amàe. por que a escola está fecha-
da? Por que a gente não pode ver a
vovó? Eu estou com coronavirus?
Quando é que ele vai embora?*
Respondi algumas vezes a essas
perguntas dos meus filhos gêmeos de 3 anos sem-
pre com a verdade, mas tentando tomar o cuidado
de respeitar a bagagem e o entendimento deles. São
muitos outros questionamentos, assim como mu-
desenvolvem.
Rotina e sono
alterados,
emoções à flor
da pele, ensino
a distância,

danças de comportamento. Mas nada mais natural:
de repente, os pequenos foram arrancados de sua
rotina e trancafiados ern casa sob a ameaça de um
inimigo invisível. “Não tem jeito. Independente-
mente da idade, o confinamento vai impactar de
alguma forma a vida de todas as crianças*, afirma
Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da
infância e adolescência da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP).
excesso de
telas... Como
lidar com
tudo isso e
a garotada
não sair
prejudicada?

As primeiras repercussões começam a ser
apontadas por estudos lá fora. Um levantamento
realizado na província chinesa de Xianxim com
320 crianças e adolescentes revela os efeitos psi-
cológicos mais imediatos da pandemia: depen-
dência excessiva dos pais (36% dos avaliados),
desatenção (32%). preocupação (29%). problemas
de sono (21%). falta de apetite (18%). pesadelos
(14%) e desconforto e agitação (13%). É evidente
que tudo varia de acordo com a idade, as caracte-
rísticas da menina ou do menino, o contexto fami-

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liar e social e. principalmente, o jeito com que os
adultos ao redor lidam com a situação.
“Na primeiríssima infância, nos primeiros mil
dias do bebê, ele só vai perceber o estresse em fun-
ção da interação com a mãe ou o cuidador*, explica
Polanczyk. “Já em crianças entre 3 e 6 anos, o im-
pacto será sentido em termos de organização da
nova rotina, tentativas de entendimento das mu-
danças e até uma possivel relação com a doença e a
morte. Fora que. nessa fase, elas necessitam de
mais espaço para explorar o mundo, o que faz parte
da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo*.
completa o professor da USP. Só que tem uma qua-
rentena no meio do caminho!

O confinamento não limita apenas esses hori-
zontes. mas o próprio gasto de energia da garotada.
"E os reflexos dessas restrições são agitação, irrita-
bilidade. alterações no sono..." esclarece Polan-
czyk. Os sinais de ansiedade também se expressam
pelo corpo, com maior ocorrência de dores de ca-
beça ou barriga, e por comportamentos regressivos
— voltar a pedir chupeta, correr para a cama dos
pais ã noite, retroceder no processo de desfralde
etc. São as pistas de que o pequeno procura por es-
tabilidade e segurança, um acolhimento que só os
adultos à sua volta podem oferecer.
O enredo fica ainda mais complicado porque
ninguém pode Ir à escola. Justamente em um mo-
mento da vida em que as experiências tísicas e as
interações sociais são tão importantes. Ainda que
as instituições e as famílias corram atrás do prejui
zo. diversos estudiosos acreditam que o ensino a
distância não seja tão efetivo quanto o presencial.
Mas. enquanto durar o isolamento, é preciso enca-
rar c driblar o desafio, criando uma rotina dc ativi-
dades didáticas e mantendo a conexão com a esco-
la c os coleguinhas virtualmcnte.
E. ai, outro dilema dá as caras: o limite dc uso
das telinhas e telonas. No inicio do ano. a Socieda-
de Brasileira de Pediatria (SBP) atualizou suas re-
comendações para a saúde mental de crianças e
adolescentes na era digital, reforçando que a expo-
sição a celular, tablet c afins se restringisse a uma
hora por dia entre 2 e 5 anos de idade e. no máxi-
mo. duas horas por dia entre 6 c 10 anos, sempre
sob supervisão dc adultos. Mas como é que fica
para crianças a partir de 7 anos que estão tendo au •
las exclusivamentc online por causa das circuns-
tâncias? “Precisamos levar em conta as limitações
das telas, o desgaste que elas provocam e toda a
adaptação que o ensino remoto impõe a escolas c
familias. Mas devemos nos preparar também para
eventuais prejuízos com esse processo c pensar cm
soluções para amenizá-los", defende Daniel Zan-
doná Santos, psiquiatra da infância e adolescência
da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Al-
bert Einstein, em São Paulo. ®

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