COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

(^) EM BUSCA DO
SANGUE ARTIFICIAL
Em 1988, Luiz Amorim,
então um hematologista
recém-formado,
participava de um
simpósio na França
quando o professor
anunciou: “Doqui
a cinco anos, nossa
especialidade irá
desaparecer". 0
motivo? A fabricação
de sangue sintético.
Trinta e dois anos
depois, a profecia não
se cumpriu. “Ninguém
conseguiu reproduzir
em laboratorio a
hemoglobina, que
transporta o oxigênio
pelo corpo", explica.
As pesquisas mais
promissoras vem do
Japão e dos EUA. Numa
delas, foi testoda em
coelhos uma especie
de sangue universal.
Outra desenvolve
globulos vermelhos
que transportariam
remedios. “Pelos
proximos dez anos,
nao teremos sangue
artificiar‟, prevê Amorim.
Uma das estratégias de captação de novos doado-
res é firmar parcerias com aplicativos de transporte
ou doação. Enquanto uns oferecem descontos e cor-
ridas grátis para viagens com origem ou destino nos
hemocentros, outros se propõem a conectar doado-
res a serviços de hemoterapia. “Sou professor de TI e
sempre quis usar a tecnologia para salvar vidas",
conta Orlando Silva Júnior, fundador do aplicativo
gratuito Partiu Doar Sangue. Para se cadastrar, basta
incluir os dados e o usuário entra para uma lista com
1 8.5 mil pessoas. Toda vez que houver campanha, é
notificado. “Durante a pandemia, o número de no-
vos doadores chegou a 20 por dia. O volume de pe-
didos atendidos mais que triplicou. Houve pedidos
de doação com 30 pessoas se disponibilizando para
doar", orgulha-se Silva Júnior.
Enquanto esse app nasceu em Minas Gerais,
outro despontou no Rio Grande do Sul. Em 2016,
Fernando Berwanger eslava participando de uma
palestra sobre empreendedorismo em Santa Ma-
ria quando, na hora das perguntas, um rapaz le-
vantou a mão. Ao ser indagado sobre o que gosta-
ria de saber, disparou: “Não estou aqui pela
palestra. Meu irmão está internado no hospital da
cidade. Alguém quer ir até lá doar sangue para
ele?" Quatro anos depois, o aplicativo criado por
Berwanger, o Hemotify, já contabiliza 12 mil usu-
ários (6 mil ativos) e 30 hemocentros cadastra-
dos. “Embora seja um número relevante, está
aquém do esperado. Desde o início da pandemia,
o número de pedidos de doação triplicou e só con-
seguimos atender a 40% deles" revela.
No meio de tanto perrengue e atos de solidarie-
dade. houve outros progressos. Em maio, o Supre-
mo Tribunal Federal derrubou as restrições à doa-
ção de sangue por homens gays. O STF decidiu que
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“homens que tiveram relações sexuais com outros


homens" no período de um ano. eram inconstitu-


cionais. O ativista Gabriel Galli, da ONG Somos —


Comunicação, Saúde e Sexualidade, de Porto Ale-


gre, celebra a decisão. “Essa norma se baseava em


uma premissa discriminatória de que, por causa de


sua identidade sexual, os homens gays e as mulhe-


res trans e travestis tinham um comportamento


promíscuo. O comportamento de um indivíduo


não é definido por isso" justifica.


Em julho, a Somos organizou um mutirão no


hemocentro da capital gaúcha para incentivar a co-


munidade LGBT a doar sangue. “De maneira geral,


os profissionais da saúde que trabalham na coleta


ainda precisam de capacitação para atender esse


público de maneira menos preconceituosa", argu-


menta Galli. No Rio, a campanha Sangue LGBTI


Também Salva Vidas, realizada em quatro hospi-


tais públicos do estado, superou a expectativa dos


organizadores: só no primeiro dia. recebeu quase odobro da mela inicial. “A derrubada da proibição
pode impactar posilivamente os estoques de san-

gue porque aumenta o número de doadores",
afirma a hematologista Indianara Brandão, do

Hospital Moriah. em São Paulo.


Apesar do fim da restrição a homens gays, ain-


da existem outros impeditivos à doação. Alguns


são temporários, como gravidez, tatuagem recen-


te e situações de risco para doenças sexualmente


transmissíveis. Outros, porém, são definitivos,
como presença de hepatite ou malária e uso de

drogas injetáveis. No mais, lodo mundo está con-


vidado a prestar esse ato de amor ao próximo.


Não dói no bo (^) Iso nem no braço. Enquanto eu ti-
ver saúde, vou continuar doando. Quem salva
uma vida salva o mundo", filosofa Paulo, o
campeão brasileiro de doação de sangue. •
0 transporte
As bolsos liberadas pelo
hemocentro acabam encaminhodas
ao setor de distribuição.
Em seguida, são transportados,
em condições adequadas, para
os estoçòes especiolizadas
em transfusão de sangue que
funcionam dentro dos hospitais.
A transfusão
Se for necessano repor sangue,
por acidente, doença ou cirurgia,
são coletadas antes amostras
do paciente receptor. Realizodos
os testes e identificodas as
particularidades, o hospitol
encominha o bolso de transfusão
para usoali mesmo.
VEJA SAUDE AGOSTO 2020 61

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