COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

A NOVA VIDA


I


Dá pra ir a um restaurante? E ao salão de


beleza? Festinha nem pensar? Projeções


revelam quais ambientes são mais ou menos


arriscados — e os cuidados a tomar


texto MAURÍCIO BRUM e JULIANA COIN design LAURA LUDUVIG ilustrações MEURI ELLE


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fase mais pesada do isolamento
imposto pela pandemia está
acabando. Embora a Covid- 19 não
esteja devidamente controlada em
boa parte do Brasil — o número de

novas infecções e mortes segue elevado —, as
cidades começaram a flexibilizar as restrições à
circulação. Em meio à discussão entre especialistas,
tensos com um cenário epidemiológico longe do
ideal, e gestores públicos, preocupados também
com a retomada da economia, o fato é que mesmo
as pessoas mais disciplinadas começaram a sair aos
poucos às ruas. Sim, estamos exaustos da
quarentena, mas a pandemia não terminou! A nova
vida lá fora exige uma série de cuidados — inclusive
porque não podemos perder de vista a perspectiva
de termos de nos trancar em casa de novo.
Por ser um pais continental, o Brasil enfrenta si-
tuações distintas entre os estados. O Amazonas, que
encarou seus piores dias em março e abril, já voltou
até com as aulas presenciais. São Paulo, por sua vez,
só deve reabrir as escolas oficialmente em outubro.
E o mantra científico é regionalizar a retomada mes-
mo. “Precisamos avaliar caso a caso de acordo com
a taxa de transmissão local, a capacidade hospitalar,
o número de infecções e óbitos... São essas informa-
ções que devem embasar o gestor na reabertura”,
defende a microbiologista Natalia Pastemak, presi-
dente do Instituto Questão de Ciência (IQC).
Algumas recomendações permanecem essenciais
independentemente do lugar e do aparente controle:

usar máscaras, lavar as mãos com frequência, manter
distanciamento social e evitar aglomerações. Nem as
cidades com os melhores índices podem se descui-
dar. “Isso porque, em tese, quanto menor o número
de pessoas infectadas numa região, maior o número
de suscetíveis à doença, o que influencia a possibili-
dade de surtos locais”, explica a epidemiologista
Anaclaudia Fassa, professora da Universidade Fede-
ral de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. A pro-
pósito, sem uma vacina eficaz à disposição, não
adianta partir para uma busca deliberada pela tão ci-
tada imunidade de rebanho — o saldo de doentes e
mortos pode subir a patamares ainda piores.
Além das peculiaridades regionais, o risco de pe-
gar ou disseminar o vírus também varia de acordo
com o espaço que a gente frequenta (praça, escritó-
rio, igreja, shopping etc.) e os cuidados tomados ali,
como você verá ao longo da reportagem. “Uma esco-
la pode ser segura se disponibilizar água e sabão, to-
esclarece Anaclaudia. Com menos isolamento, a ten-
dência natural é o patógeno circular ainda mais. Dai
a necessidade de respeitarmos as orientações de pro-
teção e higiene. “Qualquer medida de flexibilização
deve ser tomada com muito cuidado. E a população
precisa ter plena consciência do seu papel”, afirma o
médico Leonardo Weissmann, consultor da Socie-
dade Brasileira de Infectologia (SBI). “Flexibilizar
não significa um „liberou geral‟”, sentencia.

48 VE|A SAÚDE SETEMBRO 2020

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