COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

Se o robô Laura atua, predominantemente, em^


UTIs, o Da Vinci dá plantão em centros cirúrgicos.
As primeiras versões do robô cirurgião, que ga-
nhou o sobrenome do artista italiano Leonardo da
Vinci (1452-1519), chegaram ao Hospital Sírio-Li-
banês, na capital paulista, em 2008. Na ocasião,
eram dois modelos: um para cirurgia, outro para
treinamento. Hoje são três: dois para uso clínico,
um para capacitação de médicos, e mais dois simu-
ladores. Cada um deles dispõe de quatro braços
mecânicos, um com uma câmera de altíssima defi-
nição e capacidade de ampliação da imagem em até
dez vezes, e três com instrumentos cirúrgicos,
como pinças, tesouras e bisturis, entre outros.
Ao contrário do robô Laura, o Da Vinci não é au-
tônomo. Isto é, não opera nem toma decisões sozi-
nho. Ele precisa de um cirurgião para coordenar
seus movimentos por meio de um joystick. Ao longo
desses 12 anos, o Sírio-Libanês já realizou mais de 5
mil cirurgias — 60% delas voltadas à retirada da
próstata — e treinou mais de 300 profissionais de
todo o Brasil e da América Latina. A tendência não
veio para ficar à toa: as cirurgias robóticas são consi-
deradas mais precisas e menos invasivas. Com isso,
a recuperação do paciente é mais rápida e o tempo
de internação, menor. Em compensação, o custo ain-
da é alto, e o robô não oferece sensação tátil.
“Não é toda cirurgia que precisa do Da Vinci.
Indicamos esse recurso naquelas que oferecem re-
almente vantagens ao paciente. Quando o tumor é
de difícil acesso por cirurgia convencional ou lapa-
roscópica, o ideal é que a cirurgia seja robótica”,
contextualiza Sérgio Arap, superintendente médi-
co do centro cirúrgico do Sírio-Libanês, onde o pri-
meiro procedimento do tipo foi realizado há 20
anos. Nesse campo em evolução, cientistas já vis-
lumbram a criação de robôs cirurgiões inteligentes,
que não substituiriam o médico, claro, mas pode-
riam ser ainda mais brilhantes com o bisturi.
A exemplo da robótica, a IA também tem lá
seus prós e contras. Quando indagado sobre as
vantagens dos robôs em relação aos humanos, Fi-
gueredo não pensa duas vezes: eles têm uma capa-
cidade de processamento de dados muito maior e
não contam com o fator cansaço. “Imagine um ra-
diologista que precisa analisar exames de raios x
por oito ou 12 horas por dia. Mais cedo ou mais tar-
de, ele vai se cansar. Uma máquina é capaz de ana-
lisar 10 mil exames consecutivos com a mesma dis-

guns erros podem levar a condutas equivocadas e
até mesmo ser fatais. Só que as máquinas também
não estão imunes a deslizes... “O que acontece se
uma decisão tomada por um algoritmo de IA preju-
dicar ou, no limite, causar a morte de um paciente?
Quem será o responsável: o fabricante ou o progra-
mador?”, levanta a lebre o engenheiro Anderson
Maciel, consultor do Instituto dos Engenheiros
Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). “Há questões éti-
cas. Questões antigas, é verdade, mas ainda não te-
mos segurança sobre como respondê-las”, admite.

Limites e desafios no horizonte
Apesar dos progressos e do entusiasmo com a tec-
nologia, outros dilemas se colocam, na avaliação
do vice-presidente da área médica da Dasa, Leo-
nardo Vedolin. De acordo com o radiologista, os
desafios impostos pelo uso da IA na medicina se
dividem em três esferas: técnica, ética e legal. “Par-
te das atividades médicas, principalmente as buro-
cráticas e repetitivas, será substituída por tecnolo-
gias disruptivas. Mas não acredito na substituição
por completo do médico. E a principal razão disso
é que o ato médico pressupõe a relação médico-pa-
ciente. Não dá para substituir esse entrosamento
por um robô”, afirma Vedolin.
Outro ponto de preocupação para os especialis-
tas diz respeito à privacidade e à segurança dos da-
dos. Afinal, o risco de vazamento de informações
sigilosas, tanto do paciente quanto da instituição,
existe. Em agosto de 2014, hackers chineses rouba-
ram os dados de 4,5 milhões de pacientes de 200
hospitais dos Estados Unidos. Entre outras artima-
nhas, os invasores pedem pequenas fortunas para
não divulgá-los ou, então, geram boletos falsos de
cobrança. Segundo Guilherme Kato, do Dr. Con-
sulta, não existem sistemas tecnológicos perfeitos e
invulneráveis. “A boa prática diz que devemos,
sempre que possível, trabalhar com dados anoni-
mizados, ou seja, que não permitem que o cidadão
referente a eles seja identificado lá fora. Assim,
caso ocorra um vazamento, pacientes e parceiros
serão preservados”, esclarece.
No contato direto com o paciente, uma das prin-
cipais barreiras para o uso dos robôs é a falta de
algo demasiado humano, a empatia. Mas há quem
acredite que até isso está com os dias contados.
“Muitas vezes, uma boa conversa faz tão bem à
saúde quanto comprimidos. Os atuais modelos ain-

VEJA SAÚDE SETEMBRO 2020 57
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