COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

QUANDO O VÍRUS


BATE NO PEITO


Problemas
cardíacos são
o principal
fator de
risco nas
complicações
e mortes por
Covid-19.
Entenda
por que eles
tornam a
doença mais
grave e o que
o vírus pode
aprontar com
as artérias
e o próprio
coração
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ào bastasse aquela lista clássica de
cuidados com a saúde encorajados a
quem já corre maior risco de atenta-
dos ao coração — equilibrar a alimen-
tação, controlar o colesterol e a pres-
são. não fumar... —, uma nova recomendação
despontou no horizonte: fazer o possível para evi-
tar o contágio pelo coronavirus. Isso porque pesso-
as com doenças cardiovasculares são as mais fre-
quentes vítimas fatais da Covid-19: elas estão
presentes em quase 40% dos óbitos no país.
O cardiologista Bruno Caramelli, da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
esclarece que não significa que esses indivíduos
têm maior probabilidade de contrair o vírus, mas,
sim, de enfrentar uma complicação da infecção. Es-
timativas apontam que entre 70 e 80% da popula-
ção poderá ter contato com o Sars-CoV-2, mas a
maioria não vai portar sintomas ou, no máximo,
deve encarar um quadro leve. “Para ter a doença,
basta estar vivo e no planeta Terra", brinca o médi-
co. que pegou o coronavirus, apanhou das manifes-
tações da doença em casa, mas já se recuperou.
O grande problema do patógeno é quando ele se
junta a algumas condições preexistentes capazes
de agravar as coisas. O Ministério da Saúde chegou
ate a definir um perfil da vitima mais provável para
a nova doença: homem e cardiopata com mais de
60 anos. Em relação ao sexo, embora existam pes-
quisas sobre a influência genética em curso, parece
haver muito de comportamento envolvido. "Ho-
mens vão menos ao médico, cuidam-se menos e,
cm média, morrem mais cedo do que as mulheres",
aponta Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC).
No que loca aos males cardíacos, o coronavirus
pode ser a gota que faltava para o copo transbordar
— e, quanto mais descompensado estiver o pacien-
te, maior o perigo. "Se a pessoa tem uma insuficiên-
cia cardíaca, qualquer inflamação no corpo é como
se fosse um grande estresse para o organismo”,
ilustra o cardiologista Rogério Krakauer. do Hospi-
tal e Maternidade Christóvão da Gama, em Santo
André, no ABC paulista. “Mesmo sem atacar dire-
tamente o coração, a doença afeta pulmões, fígado,
rins... Com isso, o coração tem que trabalhar mais e
às vezes não consegue."
Mas não é só quem já encarou um infarto ou
possui uma doença cardíaca instalada que precisa
se precaver. A presença da hipertensão, que afeta
um em cada quatro brasileiros e aparece com o en-
velhecimento. está ligada à maior gravidade da Co-
vid-19. Acredita-se que a superinflamaçào que sur-
ge como resposta à infecção bagunce ainda mais a
vida das artérias, já pressionadas. O risco com o
coronavirus, porém, também ronda pessoas com
diabetes e obesidade, situações que atrapalham a
reação das defesas frente ao Sars-CoV-2 e também
são marcadas por um estado inflamatório crônico.
Em comum, essas comorbidades. como os médicos
as chamam, colocam o coração na berlinda.
Nesse contexto, muita gente com pressão alta
ficou em dúvida sobre continuar a usar ou nào al-
guns remédios que combatem a hipertensão. O re-
ceio veio à tona quando se descobriu que o vírus se
conecta a um receptor na superfície das células que
é o mesmíssimo alvo de uma classe de medicamen-
tos anti-hipertensivos. os inibidores de ECA. Será
que isso geraria ainda mais complicações? "Até
aqui, as evidencias são frágeis para suspender a uti-
lização. Falamos de medicamentos de uso contínuo
cuja suspensão pode resultar em consequências sé-
rias". diz Queiroga. Ou seja, os benefícios consa-
grados superam eventuais riscos. ®
50 VEJA SAUDE MAIO 2020

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