Jornalzinho da AABLA Ed. 03 Junho Julho

(Jornalzinho da AABLA) #1

Entrevista


Raimundo Ivan de Sousa Melo é professor de Língua
Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa.
Escritor em exercício, tem textos publicados em coletâneas de
contos, gênero no qual foi contemplado no Prêmio Unifor de
Literatura – 2019. Também produz caricaturas e histórias em
quadrinhos.
Como foi o desafio na escolha da abordagem pedagógica
e como você se pauta na literatura contemporânea?
Na escola, estudamos literatura da seguinte forma: estilos de
época (escolas literárias), suas características, principais
autores e obras. Só teoria. Nem sempre o aluno é conduzido
à leitura dessas obras e muito menos à escrita literária.
Sempre fui crítico ao ensino baseado na escolarização da
literatura. Acredito que a prática deva partir da leitura de uma
obra para em seguida descobrirmos, nela, as características
do autor e do estilo da época, o contexto histórico, a escola
literária a que pertence a obra e seus autores. A leitura deve
ser o início de tudo. Do contrário, formaremos alunos que
passam pelo ensino fundamental, pelo médio e quem sabe até
pela faculdade sem jamais ter lido um livro sequer de nossos
autores. Há pessoas que comentam sobre qualquer clássico
sem jamais ter lido um deles. Acredito que, com a pandemia,
a cada momento de tristeza ou solidão, surge um turbilhão de
“poetas” e “escritores”. O tempo irá selecionar os que fazem
textos confessionais e os que fazem literatura de verdade. No
mais, temos grandes obras literárias sendo lançadas por
autores contemporâneos. São ótimas opções de leitura. il
Qual a relevância de um jornal voltado para literatura
infantil?
A importância está na formação de leitores, justamente na
faixa etária mais propícia. A meu ver, a mesma missão a ser
assumida por um professor de língua portuguesa. Formar
leitores.

O jornalzinho infantil AABLA é inerente à sua profissão.
Ele o completa?
Em verdade, não trabalho com o público infantil, mas como
leitor que sou, como literato e como educador, tenho todo o
interesse e o respeito por esse periódico. Principalmente pelas
qualidades estética, literária e pedagógica que ele apresenta.
Sempre tenho algo a aprender, inclusive com o Jornalzinho da
AABLA.
Você está inserido em alguma academia de letras?
Sim. Iniciei minha participação no grupo de autores chamado
Resistência Mandacaru. Criamos, em seguida, a ACADEMIA
ANTÔNIO BEZERRA DE LETRAS E ARTE – AABLA. Para
mim é algo novo, ao qual ainda estou me acostumando.
Acredito que nosso idioma e nossa literatura devem ser alvos
de orgulho e respeito de nossa parte, por isso, para assumir
uma cadeira numa academia de Letras, tenho de estar
preparado e de levar muito a sério o compromisso não só com
a entidade, mas com essas instituições: o idioma e a literatura.
Tenho me esforçado para esse fim.
O que ainda falta no Brasil para que a profissão seja mais
valorizada e se torne protagonista da história? É possível
o educador/professor ser congruente inserido na
realidade brasileira?
Acredito que, no momento em que o professor passou a se ver
como um pai para seus alunos, como um psicólogo e como
vários outros profissionais bem mais remunerados que o
professor, em vez de orgulhar-se de ser somente um bom
profissional do magistério, ele próprio iniciou, o processo de
desvalorização de sua categoria profissional.
A meu ver, em nosso país, nunca houve interesse político pela
valorização do professor. Jamais houve nem haverá interesse
de um governante em ver o professor como um profissional
prestigiado, bem remunerado e protagonista da história,
embora isto ele já o seja de fato.
O educador é o profissional que com mais propriedade
acompanha a realidade brasileira. É o retrato da sociedade e
possui grande poder de transformação. Muitos desses
profissionais, no entanto, não têm a dimensão desse poder ou
não convenceram a si próprios da capacidade motivadora e
transformadora da categoria e acabam por colaborar para a
manutenção e não para a transformação da sociedade.

@aurenybraga
Colunista
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