Jornalzinho da AABLA Ed. 03 Junho Julho

(Jornalzinho da AABLA) #1

Eu não pedi para ser pai de uma criança Autista.
Mas ele veio e eu fui convidado para a maior viagem
de minha vida.
Nunca soube o trajeto.
Apenas me deram a missão e o copiloto.
Jeanderson, meu Herói Autista.
Ele fala pouco, mas entende tudo em um olhar.
Ele diz o que horas de conversa não diriam.
Neste mesmo olhar ele expressa todo o seu
sentimento.
Ele é um ser maravilhoso!
Que ensina e aprende.
Sua eletricidade me deixa sempre alerta.
Sua simplicidade me contagia.
Sua humanidade me emociona.
Seu espectro me desafia.
Sua forma de amar me acalma.
Minha maior conquista é te ver sorrir, Jeanderson.
Te amo, filho querido.


Hoje, a viagem se passa durante as férias. Meu anjo
azul e a maioria das crianças dentro do Transtorno do
Espectro Autista (TEA) seguem rotinas definidas e se
adaptam a elas. Isso as ajuda a se organizarem
melhor. Com meu filho não é diferente, e o desafio é
mais uma vez grande e cheio de expectativas.


Nas férias, as rotinas mudam e é claro que as
mudanças geram algumas complicações. Sem aulas,
sem alguns atendimentos, sem hora marcada para
fazer determinadas atividades e sem cronograma bem
definido. Tudo isso contribui para essa viagem
chamada férias.


Eu e os demais passageiros que estão nessa aventura
usamos da sensibilidade e da expertise que já é próprio
da família de uma criança autista. Nós planejamos e
gerenciamos um super cronograma do tempo.
Então fazemos um quadro de atividades, na tentativa
de aproximá-las das rotinas escolares: leituras,
joguinhos, pinturas, desenhos, entre outras, sendo
necessário determinarmos horário para isso,
geralmente pela manhã.
Outra coisa é fazer atividades físicas ao ar livre. Eu levo
meu filho para caminhar e andar de skate, coisas que
eu sei que ele gosta. Uma observação importante é
fazer coisas de que a criança gosta, porque não adianta
nada deixar meu parceiro estressado, porque a criança
chateada e fora da rotina normal não rende nada e pode
ter certeza de que deixá-la ele com raiva não é bom
para nenhum tripulante embarcado na viagem. Além do
que foi falado por mim até agora, também procuramos
colocar, na rotina, visitas a parques, idas ao cinema e
banhos em lagoas e/ou piscinas (ele ama tomar banho,
se refrescar), ou seja, procuramos fazer coisas
agradáveis a ele, já que é ele que conduz a viagem
mesmo.
Apesar de tudo isso, são inevitáveis os acessos de
raiva inesperados, quando algo não sai do jeito dele ou
quando nós não o compreendemos e ele não conseguiu
se expressar da maneira correta. Hoje, depois de onze
anos, eu o pai, e a mãe dele geralmente conseguimos
contornar a situação e fazer com que a viagem nas
férias seja o máximo, a mais divertida possível e não
seja abortada antes da hora.
Esse é o caso do meu filho Jeanderson. Cada caso é
um caso, e eu adoraria saber de outras experiências.
Conte-me.

@jeanpoetamador
Colunista
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