Aquele amigo do ônibus
Beto, como gostava de ser chamado, todos os dias
entrava no ônibus um ponto depois do meu e oferecia
amendoim, bala, chocolate, entre outras coisas. Três,
quatro minutos depois, se sentava, ou ficava em pé
próximo da porta quando todos os lugares estavam
ocupados. Devia ter seus 18, 19 anos no máximo.
Um dia, levantei a mão quando ele passou e disse
que queria um pacote de jujuba. Ao contar minhas
moedas guardadas na mochila de um troco dali e outro
daqui, eu tinha apenas 95 centavos e a bala de goma
custava um real. “De boa, tio! Cinco centavos não pega
nada.”, disse o menino e na sequência ele se sentou do
meu lado.
Naquele dia, conheci um pouco da vida do Beto. Três
irmãos, ele o mais velho, viviam com a mãe. Era office
boy em uma empresa próximo ao shopping Ibirapuera,
zona nobre de São Paulo, e vendia seus doces na ida e
volta do trabalho. Era assim que complementava a renda
da família da sua família.
Sua mãe, doméstica, trabalhava em três casas
diferentes. O pai do rapaz, morreu assassinado quando
seu irmão estava com meses de vida. Após o fato, a
família descobriu que o pai era membro do crime
organizado. Triste história.