EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

encosto. As mãos latejam. A aeronave estabiliza-se, e
então o comandante explica que atravessaram uma
tempestade com ventos extremamente fortes, deseja um
bom descanso a todos e informa que, em pouco mais de
uma hora, estarão sobrevoando a floresta.


Pouco sabia dele mesmo. Padre Leôncio contava
que, naqueles tempos, a malária matava muita gente, e
então a missionária encontrou uma índia cambaleando
na estrada, ardendo em febre, com muita falta de ar,
inchada, amarelenta, trazendo enganchado nas ancas
um moleque que chorava sem parar. Levados ao abrigo, a
mulher pouco falou. Tinha nome de Anaí. Muito mal,
disse que o menino, desde que nascera, foi chamado de
Ajuricaba pelo pai. Horas depois, ela morreu. E, no
documento do cartório, foi anotado Ajuricaba do
Nascimento, filho de Anaí dos Anjos.


Levado ao orfanato, o menino cresceu sob os
cuidados dos religiosos. Havia outras crianças, todos
meninos. E, devido ao nome de difícil pronúncia, ganhou
o apelido de Jura. Não havia do que se queixar. A comida
era boa, farta. A cama asseada ofertava abrigo. Poucas
lembranças restaram do antes. A morada de janelas
largas, piso tijolado, grande, ficava nos fundos da igreja,
ao lado da casa paroquial.


Da mesma idade de Jura, havia mais cinco: Zinho,
Tomé, Tico, Zé Mudinho e Bié. E cada qual possuía
quinhão de tarefa. No geral, além das aulas com Padre

Free download pdf