EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

intento, arrumou a velha mala, juntou algumas roupas, e
repassou a Jura uma pequena reserva de dinheiro. E,
assim, sem abraço e sem choro, no normal da vida,
acenou adeus aos que ficaram.


No Planalto Central, chegou meio atordoado.
Árvores nanicas, raleadas. Tudo era construção, terra,
poeira vermelha. Nada de fartura de água, nada de
chuva. Secura. Trabalhou pesado, mas por pouco tempo,
pouco mais de três meses. Ali, nada mostrava graça.
Nem o sol podia ser visto, e calor não era melado.
Ressecava o couro. Sem rio para se banhar, só a poeira
cobria tudo, tirava a beleza do dia. Sequidão.


Assim, no meio de uma prosa, conseguiu encaixe
num transporte que o levaria para São Paulo.


As luzes internas do avião são apagadas. Não há
mais filmes nas telas, tudo quieto. Alheado de tudo, Jura
nem havia percebido. Assusta-se. Pelo horário e
conforme a fala do comandante, a aeronave deve estar
sobrevoando a floresta. Na cabeça de Jura, pura aflição.
Pavoroso pensar que, se o avião caísse, ficaria perdido no
meio da selva. Coça a cabeça enxotando o mau agouro.
Do lado, o parceiro da viagem está largado na poltrona, a
sono solto. Corre os olhos, todos estão com as poltronas
deitadas. Passa a mão pelos lados do assento, apalpa
toda a volta. Nada de achar o botão para abaixar o
encosto. Contém o ímpeto de cutucar o parceiro para
pedir ajuda. Não, não teria cabimento. Tenta mais uma

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