EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

o dinheiro acabou.


Não foi apenas Jura que se enrabichou por Zuleica.
Percebia-se afeição entre os dois. Por um bom tempo, ela
não atendeu outros clientes. Os dois, alegremente,
dividiam pão com mortadela e guaraná. Mesmo quando
Zuleica precisou voltar ao trabalho, continuaram
dividindo o quarto. O inconveniente era que Jura
precisava ficar na porta do hotel enquanto ela dava
expediente. Mas, convencido pela lábia de Zuleica, o
dono do hotel contratou Jura para o serviço de limpeza e
cedeu-lhe o quartinho dos fundos. Jura conheceu outras
mulheres que faziam programas ali. E foi um desacerto.
Refestelou-se na esbórnia. Talvez tenha sido o tesão do
mormaço, tão falado na sua terra. Ficava pensando no
esculacho que levaria se Padre Leôncio aparecesse por
ali. Certamente levaria petelecos. Nem saberia contar
quantas doenças pegou, de quantas tratou. Só tomou
jeito quando ficou maninho. Foi o médico que disse, e foi
uma tristeza danada.


A amizade com Zuleica era o que lhe animava. E foi
ela que o ajudou a arrumar os documentos, todos, e
ainda cuidou dele durante as doenças. Tinha paciência de
explicar tudo da cidade grande, ensinar as malícias nos
tratos e nos destratos. Jura era desprovido de maldade,
demorava a perceber a sutileza de insultos.


Certo dia, Zuleica contou que havia conhecido um
sujeito estribado. Político lá das Minas Gerais, gentil,

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