VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - ANO 2 - Nº 13

(MARINA MARINO) #1

Lançamento de Antologia


LíviaéumPêndulo

A mulher move-se no alto da
sala. No pescoço longo e branco,
haveráocolardepérolaseagrossa
corda. No porcelanato, haverá o
brilhodolustreeasgotasdecristal
estilhaçadas. No céu, haverá
nuvens cinzentas a anunciar a
chuvaporvir.


Sentia-se massacrada,
esmagada entreVicenteeAlberto.
Nem sempre havia sido assim. A
vida, antes calma, passou a ser
angustiada,divididaeLíviasofreu.
Houve o tempo do triângulo
isósceles,formaperfeita,todosem
seulugar:comoseuespaço,coma
sualiberdade.Tudoeraassim:sem
regras, sem máscaras sem
preconceitos.Avidapareciaboa.


AtéqueLíviamudou,sentiu-se
desimportante, diminuta, parecia
sobrar naquele amor masculino.
Eles nem notaram, nem
perceberam,quantomaisseuniam
Vicente e Alberto, mais se isolava
Lívia.Umaostra.


Agora reflete a mulher sobre
sua insignificância. Estuda a sala,
observa a mobília, ergue o olhar,
observa o lustre,vai descendoaté
encontrar o porcelanato,consegue
encontrar o cenário futuro. Girao
corpo para contemplar-se no
espelho da sala, ajeita as pérolas.
Caminha alguns passos até a
cadeira, ali encontra a bolsa
pendurada,abreofechocomvagar
eprocuraacorda.

Joselma Noal
Porto Alegre/RS
Brasil
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