VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA Nº 14 SETEMBRO

(MARINA MARINO) #1
Palavras e Pontos por Regina Ruth

Mais tristeaindaésuainércia.
Passa o tempo todo ali, naquela
mesma escada, olhando sem
perceber,osobe-e-descedaspessoas.
Às vezes encolhe-se,tomba o corpo
deladoparadarlugaraumpassante
maisdescuidado,estabanado.Dalisó
saiparairaobarracopegarumpão,e
quandoescurece.Nemàescolavai!O
pai, aborrecido,decepcionado,achou
melhor nem tentar a matrícula. A
escola do sertão era tão fraca que
Cassiano não tem condição de
acompanharoestudodaqui.
Cassiano até que gostou! Não
temmesmoideiapraaprendernada,
aindamaisaqui!Sófaltavaterqueir
praescola!Seriaemoutrasituaçãoe
maisumavez,umpeixeforad’água.
Em meio a tudo isso, nessa
aflição,aindatemodireitodeficarali,
sentado,parado.GraçasaDeus,nãoé
exigido pra nada! Não tem ânimo
mesmo!Sebemqueétorturanteficar
ali,remoendotodosaquelesmartírios
nacabeça,masquefazer?!Dosmales,
o menor... Duro mesmo deve ser o
dilema do pai! Afinal, ele deve se
sentir responsável por todo esse
transtorno.


Cassianopensanopai.Hojeele
saiucedo,comoquasetodosos dias.
Nemimaginaoqueelefazpelasruas.
Diz que vai à procura de emprego,
mas... Inutilmente. Sempre volta
arrasado, mais desiludido que
quandosaiu.
No começo, quando chegou,
Cassianoaindaseanimavaemsubir,à
noite,atéobarracodeDonaGuidinha
epassarosolhos pelatelevisão.Mas
eramtantascriançasquesejuntavam
àporta,faziamtantobarulhoquemal
dava paraCassianoouviro som que
saiadoaparelho.Nãopodiareclamar,
iacontraacorrenteealinomorro,ou
seémaisumouestámorto.Cassiano
preferiu se calar. Conhecia bem a
política do morro e, aos poucos, foi
abandonando o passatempo. Agora,
bastaescurecereelejásedeita.
É isso que não consegue
engolir! A violência da favela. O
perigoiminenteelatentedo morro...
É assustador! Coisa comum é ver
brigas, tiros, mortes. Nem sabe
quantos garotos da sua idade
morreram por aqui nestes últimos
meses! É rotina... Toda manhã os
corposaparecemjogados,perfurados
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