REVISTA VOO LIVRE Nº 14

(MARINA MARINO) #1
Sãopáginasdepuroencantamentoatravésdosversoseaindadas

ilustraçõesda escritora,ilustradora epsicóloga, Christianede.Uma

honra para mim contar com parcerias tão significativamente de

peso, de profissionais tão competentes e amigas a quem muito

admiro.

Deixoaquiotextoquedefineolivroemsuacontracapa:

Dica da Adriana Santiago

Mar de obscurantismo e
“A República das Milícias”

Uma onda. Uma gigantesca
ondaqueseformavadiscretamente–
dando,porvezes,algunssinaisdesua
existência, em cristas que se
elevavam. Mesmo assim formou-se
disfarçadamentenas profundezas do
mar. Enquanto nós, brasileiros,
navegávamos de forma tranquila,
embaladospelafaltadematuridadee
euforiadaconquista datão sonhada
democracia e uma Nova República
que formaríamos, a onda gigante se
formava. Inocentes bebês que
engatinham no curso da História,
inexperientes no jogo democrático,
muito ingênuos fomos em crer que
estávamos em plena democracia e
que elanãoprecisariadecuidadose
ajustes. A bem da verdade, nunca
estivemos totalmente livres desse
flagelo, desse monstro do mar, a
ditadura. Assim como também não
éramos aquela gente tão pacífica e
acolhedora que recebia de braços
abertos todososseusfilhosdiversos
espalhadosporessapátriagiganteda
línguaportuguesa.Apenasrepousá-

vamos em berço esplêndido. E a
democracia? Uma fina camada de
óleo sobre o denso mar, de
profundezas ocultas e ondas
perversas. Um verdadeiro caldo
grosso de preconceitos, violências,
exclusões. Com a eleição de
Bolsonaro, em 2018 , essa onda
emergiu e avançou sobre o
continente,umverdadeirotsunami,e
lambeu ruas, varreu e varre gentes,
devastou tudo que encontrou pela
frente.
Essa a leitura, essencial, que
faço de nossa realidade atual, em
nosso país, Brasil, depois de
mergulhar na obra do jornalista
BrunoPaes Manso, “A República das
Milícias–dosesquadrõesdamorteà
eraBolsonaro”,editoraTodavia, 2020.
O escritor e pesquisador do
Núcleo de Estudos da Violência da
USP, utiliza-se das vozes de seus
entrevistados para contar como se
deuaformaçãodasmilíciascariocas,
especificamente em seus
“nascedouros” no estado do Rio de
Janeiro: na zona oeste, em Rio das
Pedras, Jacarepaguá; e no Campo
GrandeeSantaCruz.
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