REVISTA VOX - ABRIL 2021

(VOX) #1
duas edições e foi descontinuado. Mas
Arieni quis manter a ideia de uma
feira, embora sentisse que deveria
fazer alguns ajustes. Matutou e propôs
um novo formato aos participantes,
voltado exclusivamente a artesãos. Dali
começou a procurar por talentos locais.
Desde a primeira reunião, Arieni
acreditou que lançar mão de alternati-
vas para a feira ser socialmente respon-
sável era essencial. Então, ações como
substituir o uso de sacolas plásticas aos
poucos, lixeiras para manter o espaço
limpo, atrações para crianças (para que
os pais pudessem aproveitar
melhor), entre outras, nunca
deixaram a pauta. “A gente
formatou um perfil, sempre
priorizando a pessoa que
faz seu produto, handmade
(feito a mão) mesmo”, conta
Arieni.
Com o básico combina-
do, no dia 13 de dezembro
de 2018, os 12 expositores e
entidades assistenciais da
cidade foram para o Esporte
Clube Banespa, popular
Banespinha. Na bagagem,
um quê de ansiedade, bar-
racas, sonhos e artesanatos.
Aos poucos cada um pegou
seu lugar e a feira tomou o
formato da tão aguardada
estreia. Teve chuva torren-
cial do meio da tarde para
batizar o evento? Teve, mas
para os artistas esse foi só
mais um bom sinal e serviu
para brindar a valente em-
preitada. “A gente é meio so-
nhador, mas sou muito feliz
de ter conseguido tirar essa
ideia do papel”, relembra a
organizadora. Nesse dia as
atividades se estenderam até
a madrugada com música e
área de alimentação.
Arieni recorda que foi
um sucesso e muito sur-
preendente. “Saímos de lá
com a cabeça fervilhando
um monte de ideias, várias
coisas para pensar e forma-
tar a próxima edição de 2019”, conta.
Ocasião, aliás, que caiu bem no Dia
Internacional da Mulher daquele ano.

Dessa vez 14 artesãos tiveram a
companhia de palestrantes que trata-
ram de temas como nutrição, empode-
ramento da mulher negra e psicologia,
além de um grupo de capoeira e ban-
das. O círculo de exposição com esse
formato foi realizado pela primeira vez
na Praça Élio Micheloni. Ali começava
a se desenhar um cenário onde o novo e
o diferente causariam curiosidade e cer-
ta estranheza, já que há anos a cidade
não recebia um acontecimento nesses
moldes.

“Existe um preconceito diante de
tudo que se prega sobre arte e cultura,
mas cultura não é só o que eu gosto.

A gente tem que ter isso em mente”,
considera a organizadora. E aqui ela
chama a atenção sobre a importância
da unimultiplicidade, que significa a
convergência de multiplicidades com
o mesmo objetivo (no caso, tudo que é
handmade, feito à mão).
Mas apesar dessa resistência inicial
em parte da comunidade, ela comen-
ta que a feira tem ganhado lugar e
atraído um público fiel, que os ajuda a
divulgá-la pelo ‘boca a boca’. Com uma
atmosfera good vibes, quem chega é
bem-vindo e pode ficar à
vontade para simplesmente
aproveitar o clima do lugar
ou apreciar os artesanatos.
“Hoje a Camaleão tem um
espaço para quem consegue
ver a arte como um movi-
mento de importância”,
explica.
Diante de tantas possi-
bilidades vieram os pedidos
de bis pela feira, e ainda em
2019, novas Camaleões colo-
riram a cidade. Em outubro,
já com 35 expositores, e no-
vembro e dezembro, com 45,
elas atraíram gente de todas
as idades e interesses, e o
sucesso foi inquestionável.
A feira, que conta com
exposição de quadros,
kokedamas (cultivo japonês
de plantas envolvidas em
musgos, em formato de bola
e sem vasos), expressões
musicais variadas, como
hip hop, samba, rock, entre
outros, tem um relevante
espaço social, seja como fon-
te de renda, convivência ou
terapia. “Hoje eu vejo a feira
como um grande nicho so-
cial, de retomada de valores.
Em um momento mundial
grave, diante da pandemia
da Covid-19, podemos
retomar o valor do trabalho
artesanal, para mostrar
para a nova geração o que é
uma feira, um artesanato”,
explica Arieni.

AGULHA E LINHA
Quem também tem lembranças

“A gente formatou um perfil, sempre
priorizando a pessoa que faz seu
produto, handmade (feito a mão)
mesmo”, Ariane Tarcila

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