ABRIL 2021 | REVISTAVOX.COM 79
seus trocados e comprar
seu primeiro disco com-
pacto, Rock do Mendigo,
de Moacyr Franco. Dali
em diante, as idas para a
‘cidade grande’ Araraquara
(SP), visitar todas as lojas
de vinil viraram parte da
rotina. Fez amizade com
vendedores, com represen-
tantes das gravadoras e quando, adulto, teve um negócio
só seu, entre 1978 e 1982, o ramo invariavelmente foi o da
música. A Realce Discos e Fitas começou com, pratica-
mente, o acervo que ele tinha em casa.
É dessa época seu primeiro contato com produção mu-
sical em circuitos universitários e com os futuros ícones
brasileiros, Gilberto Gil, Rita Lee, Caetano Veloso, entre
outros. E é também desse período que ficam marcadas as
tentativas do rapaz esguio do interior em busca de uma
profissão mais tradicional. Iniciou três cursos em Ara-
raquara e não terminou nenhum. Nem Ciências Sociais,
Matemática ou Agrimensura soaram mais alto que o
gosto natural pelas canções.
Aceito seu destino, no começo da década de 80 foi
à Brasília, por indicação de um amigo de gravadora, e
gerenciou uma famosa rede de lojas. Por lá, aliás, pôde ser
expectador da evolução de muitas bandas de rock pela ca-
pital do país. Em 1985, no entanto, voltou para Araraqua-
ra por questões de saúde, e depois partiu para a capital
paulista para trabalhar em
uma das maiores importa-
doras. Também ficou uma
temporada em Campinas
(SP), Niterói (RJ) e Salvador
(BA), sempre pela empresa.
Nessa última, a passagem
foi de 10 anos.
E foi em terras baianas
que a produção musical
se achegou novamente
de suas atividades profis-
sionais. Lá ainda passou
a trabalhar com direção
de um estúdio musical e
se tornou representante
de gravadora. Tudo isso o
levou a conhecer o pessoal
do axé raiz (que era tocado
exclusivamente no Carna-
val, na capital, porque no
interior o que fazia suces-
so era o forró das festas
juninas). Muito ativo, ele
atuou em produtoras,
auxiliou em pesquisas de
campo sobre música, e
teve sob sua propriedade
a segunda loja, Fênix, em
frente ao Farol da Barra.
Ali os vinis já dividiam
espaço com os cd’s.
Nesse ponto dá para entender que, apesar de preva-
lentemente roqueiro, Eugênio é um cara aberto a estilos
musicais e respeita o diferente. “Eu costumo dizer que a
melhor música é aquela que você gosta. Não se pode dizer
que tal coisa não presta. Música é um estado d’alma. De
repente você quer ouvir uma coisa mais chorosa, depois
mais movimentada. Eu sou mais velho que o rock, então
me dou o direito”, considera o também fã de jazz, blues,
MPB. E ele faz questão de contar. “Nunca radicalizei opi-
nião sobre música, porque eu nasci radicalizando. Ouvia
Tarantelo, Paganini, sertanejo raiz. Tudo que é do univer-
so da música eu gosto. O canto do pássaro, inclusive”, diz
no exato momento em que, ao fundo, um pássaro canta
debaixo da manhã chuva em que a entrevista foi realizada.
Coincidência?
Um pequeno salto no tempo e é 1997. O calor prudenti-
no recebe um novo morador, que viria a se tornar um dos
mais exímios. Dois anos depois nasce na Praça da Bandei-
“Eu costumo dizer que a melhor
música é aquela que você gosta. Não
se pode dizer que tal coisa não presta.
Música é um estado d’alma”.