Crusoé - Edição 179 (2021-10-01)

(Antfer) #1

parte do mercado passou a torcer abertamente contra as reformas. É
que para tentar aprovar propostas como as reformas tributária e
administrativa, além de privatizações como a da Eletrobras, o governo
precisou fazer concessões ilimitadas a parlamentares e segmentos com
forte poder de lobby no Congresso. Essa rendição do Planalto aos
interesses paroquiais de senadores e deputados acabou por desvirtuar as
propostas essenciais para a retomada do crescimento, simplificação do
sistema tributário brasileiro e moralização do serviço público. Hoje, o
entendimento de segmentos do setor produtivo é o de que, ao invés de
combater privilégios e distorções, os projetos do governo remendados no
Congresso ampliam benesses, aumentam os gastos públicos e favorecem
pequenos grupos. Portanto, é quase um consenso entre eles de que,
agora, o caminho mais seguro é esperar o fim do governo Bolsonaro para
voltar a discutir as reformas econômicas.


A reforma administrativa, indispensável para enxugar a gigantesca e
ineficiente máquina pública brasileira, é uma das propostas que
ganharam recentemente a oposição do mercado. Também pudera: o
projeto do governo Bolsonaro, que já era problemático e combatia poucos
privilégios, sofreu modificações que o transformaram em um disparate
legislativo. Com isso, entidades defensoras históricas do aumento da


eficiência do Estado passaram a chamar o texto de “antirreforma”. “A


reforma perde o apoio da sociedade civil se ela passa a dialogar com o


patrimonialismo, com o corporativismo e com o clientelismo. E foi isso


que aconteceu”, diz José Henrique Nascimento, do Centro de Liderança


Pública. Por exemplo, a proposta aprovada numa comissão da Câmara,
além de ter sido desfigurada para beneficiar determinados setores, não
atinge as categorias mais privilegiadas do funcionalismo público, como
juízes, desembargadores, ministros de tribunais superiores e membros do
Ministério Público. Do mesmo modo que políticos com mandato, como


deputados federais e senadores, não são alcançados pelo projeto. “As


propostas em debate atualmente trazem benefícios de curto prazo com


custos de longo prazo. Com um governo fraco, desarticulado e que não dá


a devida importância à economia, é melhor não sair reforma nenhuma”,


defende a consultora Zeina Latif, doutora em economia pela USP.


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