Crusoé - Edição 179 (2021-10-01)

(Antfer) #1

um programa emergencial que prometia distribuir alguns bilhões de reais
a juros baixos e em condições facilitadas. Era uma maneira de ajudá-los a
enfrentar o mau momento sem ter que demitir funcionários ou mesmo
fechar definitivamente as portas. Logo começaram a aparecer queixas de
todos os lados – nem todos os que precisavam conseguiam, de fato,
acesso ao crédito. Em Brasília, porém, havia um atalho bastante
privilegiado, disponível apenas para alguns.


De dentro do Palácio do Planalto, mais precisamente do gabinete da
primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro, saíram pedidos para
que a Caixa Econômica Federal, uma das principais operadoras do
programa de socorro subsidiado pelo governo, atendesse a um seleto
grupo de empresas interessadas. Em comum entre essas empresas havia
o fato de elas terem, como proprietários, bolsonaristas de carteirinha ou
gente bem próxima da família presidencial.


Crusoé teve acesso a documentos que mostram que o gabinete de
Michelle Bolsonaro chegou a registrar as demandas por e-mail, ao mesmo
tempo que assessores da primeira-dama atuaram como despachantes
para facilitar o processo. A própria Michelle chegou a tratar do assunto
em uma conversa com o presidente do banco, Pedro Guimarães, um dos
mais entusiasmados e diligentes auxiliares de seu marido, Jair Bolsonaro.


Não é algo trivial. Primeiro, porque ao interceder em favor de um grupo
de empresas amigas, a primeira-dama atropelou princípios elementares
da administração pública, como o da impessoalidade – as firmas que
ganharam a bênção, por óbvio, passaram a ter um tratamento
diferenciado, enquanto a grande maioria, distante da cúpula do poder,
penava para ser incluída entre os beneficiários do auxílio. Segundo,
porque a tramitação dos processos se deu em desacordo com os fluxos
normais das operações de crédito do banco.


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