Crusoé - Edição 180 (2021-10-08)

(Antfer) #1

estátuas das vinte rainhas que enfeitam o Jardim do Luxemburgo, não há
nenhuma da prima Catherine de Médicis. Ela está para a monarquia,
assim como Robespierre está para a Revolução Francesa. Terror e terror.
Também não há nada dedicado a Robespierre na capital da França.


Plot twist. Escrevi sobre as pinturas de Rubens que retratam Marie de
Médicis e resvalei em Catherine de Médicis, com o pensamento em uma
terceira personagem feminina, que se dedica neste momento a destruir
meticulosamente Paris: a prefeita socialista Anne Hidalgo, espanhola de
nascimento, cuja atuação egoica e fanática alimenta sentimentos
xenofóbicos. Reeleita graças à pandemia, que levou à ausência de 70%
dos eleitores na votação do ano passado, ela resolveu promover, no seu
segundo mandato, um massacre de São Bartolomeu urbanístico-
arquitetônico. Para ela, Paris não vale uma missa, não vale nada.


A cidade está mais suja do que nunca, com latas de lixo transbordantes
que fazem a festa dos ratos. Calçadas e ruas inteiras foram tomadas por
mesas de bares e restaurantes que infernizam o cotidiano de transeuntes
e moradores. As pichações se multiplicam. Postes do século XIX foram
cortados e bancas de jornal antigas, substituídas por grandes cubos de
plástico. As delicadas fontes de água potável em ferro fundido, as fontes
Wallace, deram lugar a bebedouros nojentos. Para completar a barbárie,
Anne Hidalgo mandou instalar mictórios nas ruas — sim, mictórios. O
sujeito abre a braguilha, aproxima o pênis de um buraco numa caixa de
plástico e se alivia aos olhos de todos, e sem torneira para lavar as mãos.
Como há vazamentos nesses mictórios, trata-se também da
institucionalização do xixi no canto da rua.


Logradouros históricos, como a Place de La Concorde, estão
abandonados, com mato que cresce entre os paralelepípedos. Fitas
adesivas remendam equipamentos públicos sem manutenção adequada.
Na fúria da prefeita contra a circulação de automóveis, blocos de concreto
horrendos, amarelos, bloqueiam ruas — que estão atulhadas de bicicletas
e patinetes de aluguel jogados nas calçadas. A pretexto de “vegetalizar” a
cidade, as árvores de Paris foram cercadas por plantinhas murchas, com


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